domingo, 16 de janeiro de 2011

O crédito interminável


- Dá-me um beijo…

- Hummm…. Deixa-me ver…. Não… infelizmente não posso…

- Não podes? Como assim, “ não podes “ ?

- É isso mesmo, não posso. O teu crédito acabou, não posso dar-te mais beijos…

- O meu crédito? Impossível. Que história é essa?

- É mesmo assim como te digo, o teu crédito acabou. Portanto acabaram-se os beijos…. Finito, finito, finito.

- Não é justo.

- Claro que é justo. É mesmo muito justo. E ainda por cima… tu fazes o mesmo comigo, portanto…

- Não faço nada.

- Fazes sim. E aliás…. Eu creio mesmo que o teu saldo já estava negativo…. Mas eu sou tão compreensiva, tão compreensiva…. Que fingi nem reparar…

- És horrível, isso é o que tu és. E agora?

- Agora?

- Sim, agora! O que devo eu fazer? Quero um beijo….

- Hummm… então terás que adquirir mais uns créditos…

Ele sorriu, daquele jeito que sempre a encantara.

Talvez fosse o olhar, aquela covinha no queixo, ou simplesmente aquela ruga de expressão junto aos olhos, a acompanhar o movimento dos lábios, de cada vez que sorria.

Talvez fosse por tudo isso… ou muito mais que isso.

Afinal de contas…. Como medir as emoções, mesmo aquelas que não se conseguiam explicar?

Ele soltou a mão que guardava escondida atrás das costas.

Uma haste longa, curvilínea, verde luminosa, um tufo amarelo de cor, a forma inconfundível de uma tulipa em botão.

- Vejamos…. Como está hoje a cotação…. De uma flor? Será suficiente para o meu saldo voltar de novo ao positivo?

Foi a vez de ela sorrir, fingindo-se surpreendida.

- Uma flor? Hum… não sei…. Terei que pensar um pouco…. Ou melhor…. Vou também aproveitar a oportunidade para carregar também alguns créditos no meu cartão…. É só um minuto, está bem?

E sem lhe dar tempo a fechar a boca da surpresa incontida, levantou-se, alcançou a pequena mesa e abrindo a gaveta, retirou do seu interior um pequeno pacote, envolvido num laço vermelho.

- Toma… - lá foi dizendo, sem disfarçar um olhar de malícia - …. Vê lá se gostas do que me ofereceste…

- Eu? Ofereci-te?

- Ela assentiu com um leve movimento.

- Claro que ofereceste…. Sá que ainda não o sabias…

Entrelaçaram-se, simplesmente.

Ele abriu a pequena caixa de cartão, mordido pela curiosidade.

Espreitando através do papel branco, duas minúsculas peças de lingerie, vermelho escarlate, fizeram-no sorrir.

- Caramba – ainda balbuciou…. – quantos créditos vais tu ganhar ? Um milhão?

Ela nem lhe respondeu.

Um silêncio molhado de beijos pairava no ar.

Ou não fosse primavera.

12 comentários:

  1. Olaaaaaaaaaa...
    achei voce aqui ...rsrs
    tudo bem com voce meu amigo?
    Lindo conto , como sempre
    Um abraço carinhoso
    Lilian

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  2. Lilian.... que saudades. Julgava que já tinhas partido para uma daquelas ilhas dos mares do sul... mas ainda bem que ainda estás por aqui, fazes falta.

    Beijos, tudo de bom para ti.
    Rolando

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  3. O amor é feito de "pequenos créditos" :)

    Muito bonito.

    Biejinhos

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  4. Ah, Joana... é mesmo. E só cada um sabe quais os mais ou menos "valiosos", não é?

    beijos, um óptimo descanso para ti...

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  5. Rolando

    :-) o exercício da sedução é tão antiga quanto minha avó e jamais estará fora de moda.

    Lindo texto! Sedutor. :-)

    bjos
    Anne

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  6. Lindo, apaixonante, sedutor!

    "Detalhes" assim é que alimentam a relação... Simples, adorável!!

    Parabéns amigo, continuas implacável na escrita!

    Bom domingo, boa semana!!

    Bjs!!

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  7. Anne... estás cheia de razão... o que seria de todas as emoções sem o eterno jogo da sedução?

    Beijos.

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  8. Olá, Menina do Mar.

    Verdade... a fogueira da praia estava um pouco apagada... senta-te e toma um café, prova os bolinhos deliciosos que os outros já trouxeram, estão ali naquela mesa do fundo.

    Beijos.

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  9. Regina,

    Sim... as grandes coisas são elas mesmas feitas de detalhes, não é? E são esses pequenos pormenores os que depois - mais tarde - recordamos com um sorriso nos lábios, não é?

    Beijos, boa semana para ti também.

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  10. Todas as primaveras trazem créditos inesquecíveis e surprendentes embrulhados com o perfume das flores e cores radiosas que deixam um brilho especial nos olhos de quem lê as tuas histórias.

    Beijos
    Manu

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  11. Manu...

    Já tinha saudades de ler a forma única como consegues dizer coisas bem simples...

    Beijos.
    Rolando

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