terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Crónicas de Pompeu e Pompilia


- Estás muito charmoso, hoje…

- Oh… obrigado, obrigado… a sério?

- Claro que é a sério… sabes que nunca te minto…

- Verdade… e tu também sabes que eu aprecio imenso a tua franqueza, sempre… diz-me… e que tal se eu colocasse um pouco mais de brilho, aqui?

- Hum… não sei… talvez seja demais…

- Demais… sim, deves ter razão… e se limpar estes brilhantes? Realça-me os olhos?

- Os teus olhos são lindos… não precisam de ser realçados…

- Adoro quando dizes isso… deixa-me limpar-te um pouco, estás a ficar baço…

- Pompeu?... Pompeu?

O pavão Pompeu acabou de alisar as penas, o bico ainda salpicado de brilhantes.

- Sim, Pompilia, minha querida… estou aqui…

- Estava a ouvir a tua voz… estás falando com alguém?

Pompilia, a pavoa, assomou à porta.

- Não, minha querida… estava só eu… aqui sozinho, defronte do espelho… tratando de uns pormenores, nada mais…

( Silêncio )

- Pompeu?

- Sim, Pompilia?

- Tu não estavas… de novo… a falar com o espelho, pois não?

- Oh, Pompilia, claro que não… como pudeste pensar uma coisa dessas?

- Sei lá… tive um pressentimento…. Afinal de contas… és um pavão…

1 comentário:

  1. Gostei do pequeno episódio deste Pavão, fez-me lembrar que ele sofre da "lenda de Narciso" da Antiguidade, que ao apaixonar-se pela própria imagem reflectida nas águas de um rio, caiu e afogou-se. Que o Pompeu se fique pelo espelho!

    Ainda a título de curiosidade e com um exemplo mais real, tenho uma familiar juvenil que teria uma irmã gémea (morreu de parto e ela não sabe porque a familia optou por não contar), tudo parecia normal até que ela já foi vista várias vezes ao espelho conversando com a própria imagem. Eu explicaria que a necessidade de se ver reflectida talvez por reminiscência da irmã perdida á nascença lhe dÊ o impulso de falar consigo mesma!!!

    Abraço ^^

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