Segundo acto
Pois… é verdade, Teodoro e Margarida encontraram-se. E mais do que isso… completaram-se, num estranho desígnio intraduzível por palavras. Como ele – tão hábil com as palavras – gostava de repetir… “ela era a mais improvável companhia que ele poderia encontrar e no entanto… os dias perdiam absurdamente o sentido sem ela por perto”.
Margarida sorria, embalada pelas palavras. Coloria-lhe os poemas, numa conjugação perfeita daquilo que ele pensara escrever e só disfarçara em estrofes rimadas.
Talvez que afinal… as pinturas e as palavras se completassem, porque não?
Um dia, ela desenhou a silhueta fugaz de uma mulher, carregando um cântaro sobre a cabeça, quase um pequeno ponto escuro, numa tela colorida de cor-de-laranja. E enquanto hesitava sobre o fundo e os pormenores para completar a obra, ele acercou-se de mansinho e murmurou-lhe ao ouvido “ deixa assim… ela está no deserto, não está? O deserto é assim… “
E ela sentiu-se lida na alma, como se os pensamentos entre os dois fossem cristalinos, transparentes.
O tempo passou. Não interessa quanto.
Mas passou.
Um dia, sem aviso prévio… separaram-se. A desconfiança instalara-se entre os dois; ela sentia uma espada em cada palavra que ele escrevia, ele sentia o ardor do ciúme em cada rosto que ela desenhava.
Os pensamentos – antes transparentes – criaram lodo e odor fétido, escorrendo em palavras gastas, repetidas, ofensivas, dilacerantes.
Será assim que se perde o paraíso?
Quando simplesmente se deixa de acreditar … que ele existe?
O certo é que as nossas duas personagens deixaram de acreditar; no paraíso, no amor, na confiança, nelas próprias.
E como querubins expulsos do jardim celestial, viraram-se costas e fugiram, cada qual para seu canto do mundo, na esperança vã de procurar um novo paraíso.
E mais uma vez… o tempo continuou a passar.
Desta vez… de uma forma estranhamente lenta, como se até ele se recusasse a contribuir para aquele aumentar da distância entre os dois.
Não, dirão vocês… mas afinal a história é banal… tantos e tantos casos de pretensas almas gémeas que se encontram e quase completam… para logo depois se voltarem a separar. É a vida, o simples decurso normal dos dias, a insustentável leveza do ser, como diria o escritor…
E têm razão… ou melhor, teriam razão… se a história terminasse aqui.
Mas não termina, este foi simplesmente… o segundo acto.
E ainda falta o último erguer do pano… e o desenlace final.
"E ela sentiu-se lida na alma, como se os pensamentos entre os dois fossem cristalinos, transparentes."..linda esta frase!! E estamos desejosos, já, ansiosos pelo erguer do pano..e o desenlace final..por favor não nos faças esperar muito tempo heheheh. Bjs
ResponderEliminarIsto promete. Será que depois de fazerem uma viagem ao seu interior percebem que aquele acaso inicial não é um acaso e são mesmo almas gémeas?
ResponderEliminarEspero para ver como termina. :)
Beijinhos
Rolando,
ResponderEliminarNão nos frustre! Coloque alegria e felicidade na imaginação do talentoso escritor e nos devolva à realidade pintando as letras com as cores dos nossos desejos: final feliz para uma história de amor tão bonita e bem escrita.
Quando as palavras têm força os nossos sonhos ganham vida. Espero o terceiro acto com ansiedade. Bjs
Bem... vou ficar à espera!
ResponderEliminarMas até agora iria concordar com o pretenso final!!