O poeta sentou-se, exausto.
“Terminei a minha obra prima, mereço descansar…” - pensou, encostando-se ao troco da árvore.
E assim permaneceu, atento ao cair das folhas… na esperança vã que a brisa primaveril o bafejasse de novo com a inspiração.
Mas o tempo passou, passou… as brisas deram lugar ao estio e às tormentas do Outono… e a inspiração… não chegava.
“ Só uns versos, não peço mais… só o inicio de uma estrofe…”
Mas nada…. Rigorosamente nada lhe brotava dos dedos, nem a simples vontade de afagar a erva macia onde se sentara.
Foi então que um pequeno pássaro castanho – talvez um pardal – lhe pousou aos pés, estranhando tal imobilidade.
- Morreste, ó poeta? – chilreou ele, de um jeito pouco comum nos da sua espécie.
- Não, pardalito… não morri… estou simplesmente à espera que me chegue a inspiração…
O pardal abriu o bico, hesitando em responder.
Segundos depois, levantou de novo voo, desaparecendo entre as folhas secas das acácias.
O poeta permaneceu sentado, ainda à espera.
No dia seguinte, o pequeno pardal, no seu voo matinal em busca de sementes, encontrou-o no mesmo local, encostado ao tronco da árvore, contemplando ansioso o percurso das nuvens no céu.
- Bom dia poeta… - cumprimentou o pardal – já encontraste o que procuravas?
O poeta balançou a cabeça, o desânimo estampado no rosto.
- Ainda não… passam ventos, dias e noites, estações, chuva e até crianças a brincar… só não passa a minha inspiração…
O pequeno pássaro seguiu viagem. Havia que aproveitar o dia, o Inverno aproximava-se a passos largos e urgia recolher todo o alimento que fosse possível encontrar.
Passaram-se alguns dias, até os caminhos do pequeno pardal se cruzarem com a árvore descanso do poeta.
- Bom dia poeta… como estás hoje?
O poeta, visivelmente mais magro e abatido por tão prolongada espera, lá conseguiu erguer um dedo e esboçar um sorriso.
- Olá, pardalito… continuo à espera… continuo à espera…
Desta feita, o pardal não conseguiu mais conter a resposta.
- À espera? À espera de quê?
- Da inspiração, claro… que mais poderia ser? Eu sou um poeta, não percebes? Preciso de inspiração…é o meu alimento, sem ela eu morro…
O pardal chilreou algo ininteligível.
- Poeta… eu também morreria… se não procurasse todos os dias o meu alimento…
- Ora …. Isso é fácil… tu tens asas, podes voar, percorrer os campos… ah, se eu ao menos pudesse voar…
O pequeno pardal esticou as asas, preparando-se para levantar voo.
- Poeta, poeta… se eu ao menos pudesse falar, caminhar, ser humano… mas crês tu que sou menos feliz por não o ser?
E como o poeta não lhe soubesse responder:
- Poeta, poeta… que triste poesia é a tua… que nem no milagre de teres encontrado um pássaro que fala contigo consegues ver um pouco de inspiração…
Bah! Que linda lição esse pardal deu ao poeta...
ResponderEliminarEle havia esquecido que tem asas também, as da imaginação e com elas, pode voar looooooooooooooooooonge!!!
ADOREI!!!
abraços,tudo de bom,chica
Muito boa a história que pode ter diversas conclusões. A minha tirada na diagonal refere que afinal este poeta à espera da sua inspiração foi ficando egoisticamente insensível ao que se passava em redor.
ResponderEliminarNo fim, o pardal foi o verdadeiro poeta sábio :))
Parabéns e grato pela partilha. Abraço ^_^
A inspiração vem sempre de onde menos se espera... um verdadeiro poeta, está atento ao que o rodeia... e mais se inspira quanto menos suspira por inspiração. :)Beijinho
ResponderEliminaraté um simples pássaro quis mostrar ao poeta o valor que ele tem..
ResponderEliminarbjs.Sol
Uma óptima lição de vida... e tão bem contada!
ResponderEliminarOi Rolando
ResponderEliminarO poeta está cansado e esqueceu suas fontes de inspiração - sua própria tristeza já lhe daria bons versos rsrs
falta-lhe uma musa que lhe desperte desse cansaço rs
Oi poeta Rolando e voce como vai?
seu conto poético com falas de um pardal é uma inspiração que emociona e naõ precisa ficar a espera ... tá pronto! rs
abraços amigo
desculpe nao vir mais vezes aqui, ando que nem esse poetinha sem inspiração pra escrita - lendo só lendo .
Rolando,
ResponderEliminarA inspiração também pode ser contemplativa.
Por vezes, há mais poesia no silêncio que nas palavras... Bjs
Eu só converso com Cegonhas...
ResponderEliminarPor vezes a vida dá-nos sinais, mas estamos tão cegos que nem os vimos.
ResponderEliminarFelizmente para ti a imaginação não acabou e continuas a brindar-nos com textos sábios.
Beijos
Manu
E eu estava a pensar que o poeta imaginava o pardal...
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