tag:blogger.com,1999:blog-51038935731351283102024-03-19T12:30:58.979+00:00EntremaresRolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.comBlogger55125tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-10734561784610021772011-07-09T17:02:00.000+01:002011-07-09T17:02:00.482+01:00Leopoldo, a cegonha<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRQhQLKPtxxlaB-6BV8YKXr7Xynn8q0VWwQEvNUM-adDb7vY081W5mh4M-2y0kEkveWiXOL0mx0FlGTvc9hUMpvxFYv1f2Hugb8cI3IqKBm10NDQz7wyhMdpNOGYKHM4QzQ7GBpr_M3eF5/s1600/cegonha.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 376px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRQhQLKPtxxlaB-6BV8YKXr7Xynn8q0VWwQEvNUM-adDb7vY081W5mh4M-2y0kEkveWiXOL0mx0FlGTvc9hUMpvxFYv1f2Hugb8cI3IqKBm10NDQz7wyhMdpNOGYKHM4QzQ7GBpr_M3eF5/s400/cegonha.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5627354067915668082" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Quase, quase… um primeiro dia de verão.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Que ainda não o era.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A primavera tardia transformara-se num tempo de chuvas, intercalando pingos de Inverno e as cores fortes do verão, secando as espigas de trigo e alourando os campos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Princípios de Junho. Em breve – muito em breve – o estio seco cobriria a planície de videiras multicores, fardos de palha e cantos de ceifeiras. O céu ficaria mais azul e sem nuvens, as crias dos pássaros abandonariam os ninhos, os ribeiros murchariam sem água e as papoilas seriam substituídas por malmequeres amarelos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">No alto dos eucaliptos, as cegonhas mais jovens aprenderiam a voar, treinando a fantástica viagem de regresso a africa.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ou pelo menos… quase todas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Leopoldo Malaquias era uma dessas cegonhas que, pelos ossos do ofício, não poderia acompanhar a família no regresso aos planaltos quentes de africa. E isto porque a veterana cegonha Malaquias tinha uma das tais profissões especiais, que não se compadecem com o rodar das estações.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Leopoldo Malaquias era… um entregador.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E se os meus amigos estão pensando com um sorriso naquela imagem tão familiar de uma cegonha carregando um embrulho de pano, seguro no bico… com uma criança lá dentro…pois é verdade, não se enganaram por completo. Mas…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Bem… existe sempre um “mas”, não é verdade? Ou vocês sempre acreditaram que as cegonhas só transportavam… bebés? Não, claro que não…. Seria um desperdício enorme de talento, não vos parece?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pois é verdade, Leopoldo Malaquias era um desses anónimos entregadores, um estafeta incansável e competente, trilhando os cinco continentes e podendo gabar-se – sem falsa modéstia – de nunca ter extraviado uma encomenda. Não, nunca.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas também é verdade que – apesar dos muitos anos que já levava de profissão – nunca fora solicitado para entregar uma encomenda… como aquela.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Abriu e fechou o longo bico, divertido. Os humanos – sim, quem mais senão os humanos para estabelecer aquele laço tão especial com as cegonhas – ainda conseguiam, de tempos a tempos… surpreendê-lo. Lembrava-se de já ter transportado bebés – muitos – entre continentes, alguns até adoptados, flores, pássaros exóticos, até alianças de ouro… e uma bicicleta; entregas estranhas, porventura excêntricas… mas certamente com significado especial para quem as enviava… e sobretudo para quem as recebia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Muito raramente, a cegonha Leopoldo pernoitava no local de destino, após efectuar a entrega. No princípio… adorava espreitar pelas janelas embaciadas, ouvir os gritos de alegria quando o destinatário se apercebia que chegara a sua tão preciosa encomenda. Com o tempo, a monotonia vencera a curiosidade e limitava-se a deixar o precioso embrulho, pousado num beiral ou junto da chaminé… e retornar a casa, para junto da sua própria família. Sim… apesar dos humanos nem se aperceberem de tal…. Ela também tinha uma família.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ajeitou cuidadosamente a sua encomenda, prendeu os cordões que fechavam o embrulho de pano e aprontou-se para partir.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Seria a primeira vez que iria entregar uma pequena caixinha de madeira contendo… sementes. Sim, isso mesmo, perceberam bem… sementes.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A história era longa, e nem lhe competia a ele, Leopoldo Malaquias, reproduzi-la. Sabia simplesmente que o destinatário da encomenda era uma mulher, de meia idade, com filhos, com uma história de vida complicada. Sabia também que o remetente da encomenda era um homem, também com filhos, apesar de não lhe conhecer o nome ou a origem. E sabia também que a caixinha de madeira continha seis sementes, acompanhadas de um papel dobrado, contendo talvez a explicação de tão estranha entrega.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E na verdade, sabia ainda outra coisa. Que a mulher a quem se destinava a encomenda… não podia ter mais filhos, por motivos que certamente não eram do seu pelouro.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ensaiou um bater de asas, reviu mentalmente todos os procedimentos… antes de se lançar ao voo. A viagem era longa, um oceano para atravessar, era imperioso não esquecer nada.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Três, quatro, pronto… talvez cinco vezes. Mas para quê resistir mais à tentação? Sabia perfeitamente que mais tarde ou mais cedo abriria a pequena caixa, roído pela curiosidade. O que se encontraria escrito no pequeno papel?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Com um gesto certeiro do longo bico, retirou o laço que segurava o papel dobrado da embalagem. Este tombou sobre o terraço de tijolo, desdobrando-se perante a sua curiosidade. Finalmente podia ler.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">" Três destas sementes são tuas, as outras minhas. São iguais, impossível distingui-las. A todas elas daremos água, afastaremos os predadores e cantaremos canções de embalar. Crescerão num canteiro a que chamaremos de lar e quando elas próprias gerarem sementes… fechar-se-á o ciclo do mais improvável dos amores que este mundo já conheceu. E assim será. "<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A cegonha Malaquias passou o bico pelas penas brancas, num gesto inconsciente de meditação. Não compreendera em absoluto o conteúdo da estranha mensagem… mas verdade seja dita, os humanos tinham esse raro condão de escrever coisas estranhas, ilógicas, irracionais… regadas por aquela palavra "amor" que teimavam em utilizar de modo quase absurdo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sementes? O que quereriam os humanos dizer com… sementes?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não, decididamente… um mundo demasiado estranho, o dos humanos. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Bateu as asas e lançou-se nos ares. Mais uma entrega.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Seis sementes, de enigmático significado.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um homem, uma mulher, seis sementes.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ser cegonha, viver a vida de uma cegonha… era na verdade, incomparavelmente mais simples…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><o:p> </o:p></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com47tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-88346245348725503152011-07-08T08:52:00.003+01:002011-07-08T08:54:26.781+01:00O estafeta nº 15<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDF9h-cjolZW5HLRiRxqLEIYEb4Reo8SF2CF9NdrbEUho7ZPaVow1b95DErA9mkTytjPF48HliIfK4_OZbji8q8DOh_bc3vrG0jz5_-JIgaLHIGJbGRVYlRgYrTOIrCHqes7wHxj3yl0eR/s1600/dunstanburgh+castle+tower.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 267px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDF9h-cjolZW5HLRiRxqLEIYEb4Reo8SF2CF9NdrbEUho7ZPaVow1b95DErA9mkTytjPF48HliIfK4_OZbji8q8DOh_bc3vrG0jz5_-JIgaLHIGJbGRVYlRgYrTOIrCHqes7wHxj3yl0eR/s400/dunstanburgh+castle+tower.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5626886490502847554" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Estafeta número doze… muito bem… aqui tem…. Número treze… muito bem, obrigado, aqui está a sua encomenda…. Estafeta número catorze… a sua, está aqui, pode pegar… estafeta número quinze…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">( silêncio )<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- … estafeta número quinze?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">( silêncio )<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Estafeta número quinze? Juan? Onde está o Juan? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um silêncio embaraçado envolveu a sala. Mestre Policarpo, chefe de todo o departamento de distribuição postal, engrossava a voz… e quando isso acontecia….<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Juan !! – gritou, esticando o pescoço para parecer mais alto - … sempre atrasado… onde está esse inútil?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ninguém lhe respondeu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Todos os estafetas sabiam muito bem que os atrasos de Juan à chamada matinal só podiam significar uma coisa. E portanto… nem valia a pena dizer o que fosse, pois uma simples virgula só iria irritar ainda mais mestre Policarpo, já de si à beira da explosão.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um bater de asas vigoroso e alguns segundos depois, um pombo cinzento claro, de pescoço branco e penas brilhantes, entrou pela janela aberta da torre e pousou desajeitado no chão de pedra, a meia distância entre o mestre Policarpo e os catorze estafetas, bem alinhados.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Perdão, mestre Policarpo… pelo meu atraso… o vento estava horrível, uma confusão enorme… até uma águia me perseguiu… peço perdão…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mestre Policarpo, encarregado do serviço de distribuição postal, tinha a seu cargo quinze estafetas… quinze pombos correio.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele próprio já fora estafeta, nos seus tempos de juventude; e no entanto, apesar da já longa carreira, nunca encontrara um estafeta como Juan, o pombo correio cinzento de pescoço branco.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Juan… ( e esforçou-se por manter a voz inalterada ) … essa é a desculpa mais esfarrapada que já ouvi em toda a minha vida… e você está novamente atrasado…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Perdão, mestre… não voltará a acontecer…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mestre Policarpo alisou as penas, tentando acalmar a raiva.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O pombo Juan era o mais veloz, astuto, o que melhor se orientava, o que nunca deixara cair uma encomenda ou tampouco fora ferido ou capturado pelas águias. Mas Juan também era… um incorrigível pinga-amor, e todos conheciam de sobra os verdadeiros motivos dos constantes atrasos às chamadas matinais.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O pombo Juan adormecia… ao raiar da aurora.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- A sua encomenda, Juan… - e entregou-lhe uma pequena anilha de mensagem – a sua entrega de hoje…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Juan enfiou a anilha na pata e perfilou-se junto dos colegas, já alinhados para a partida.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Vá… vão…. – mestre Policarpo bateu as asas em voz de comando – e cuidado… muito cuidado lá fora…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um a um, os estafetas abriram as asas e descolaram, galgando a janela aberta da torre rumo a um céu sem nuvens. Cada um levava uma mensagem, uma encomenda, uma notícia, cada qual para seu destino.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Na torre ao lado, residia mestre Policarpo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E era precisamente numa das janelas abertas dessa torre que espreitava ansiosa uma pomba branca, olhos verdes claros como a erva molhada dos jardins.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pia era o seu nome… e mestre Policarpo o seu pai.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O velho pombo correio ficou a vê-los partir, ora acenando a cada um deles, à medida que ultrapassavam o umbral da janela… ora espiando pelo canto do olho a pomba branca na sua janela.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O estafeta Juan foi o último a lançar-se no espaço.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Bateu as asas, deu duas voltas sobre si mesmo e antes de se aventurar no espaço aberto contornou a torre e desceu planando até à janela onde Pia, a pomba branca, aguardava imóvel e em silêncio.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não chegou a pousar. Batendo simplesmente as asas – mais devagar – planou diante dela e por um breve segundo… os bicos roçaram um no outro, num secreto código de entendimento.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Depois, soltou-se nos ares, grasniu algo baixinho e voou em direcção ao sol.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Tinha uma mensagem para entregar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Da janela da primeira torre, mestre Policarpo observara toda a cena.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Abanou a cabeça, num gesto difícil de definir.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Jovens…. – murmurou baixinho – jovens… e loucos… ahhh.... se eu tivesse menos vinte anos….<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-50434448223757653332011-06-09T14:01:00.003+01:002011-06-09T14:03:10.226+01:00Efemerus<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJbdIk3PqxEpt2Bl1tTDrCE51av5jaDRfyMEFytybRxw7oqm5BE_4XMNCRaiMlT0T_4fLnWT_rxsGUstO_HsvlgmUZmmh9z32sUeFI9p9jXug41KzQTh98v4DE5encqZR6-hN3ZGkocUgA/s1600/Efemero.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 282px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJbdIk3PqxEpt2Bl1tTDrCE51av5jaDRfyMEFytybRxw7oqm5BE_4XMNCRaiMlT0T_4fLnWT_rxsGUstO_HsvlgmUZmmh9z32sUeFI9p9jXug41KzQTh98v4DE5encqZR6-hN3ZGkocUgA/s400/Efemero.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5616204506828228402" /></a></div><div><br /></div><div style="text-align: center;"><i>( imagem de minha autoria )</i></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sinto-me… velho…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ora… tu, velho? Estás com melhor aspecto do que eu, ninguém diria que temos a mesma idade…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- … velho… velho e cansado…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Tu és um rezingão, é o que tu és, sempre descontente com alguma coisa… sinceramente, não sei o que vi em ti, não me lembro que tu fosses assim, quando nos conhecemos…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Filia, minha querida… tu és uma jovem, continuas bela como sempre. Agora, já olhaste bem para mim? Oh, como me sinto velho…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela olhou. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E um segundo depois apeteceu-lhe gritar e desaparecer. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Efemerus, tu és um idiota. Um verdadeiro idiota. Já estamos juntos há quanto tempo? Mais de metade da nossa vida… nunca estiveste doente… viste nascer três filhos maravilhosos…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Isso é verdade, mas…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Nem “mas” nem meio “mas”… és um ingrato…seduziste-me ao primeiro olhar, não te larguei em momento algum, nunca nos zangámos, nunca nos faltou alimento, conforto, amigos… que mais queres tu da vida?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Eu queria… eu queria mais… mais tempo de vida…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Para quê, meu querido Efemerus? Para quê?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não sei ao certo, Filia… sinto só uma leve injustiça em viver tão pouco tempo…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Filia abanou as asas lustrosas, naquele jeito ímpar que encantara Efemerus, há muito… muito tempo atrás. Era verdade… que se aproximava a hora.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Filia e Efemerus eram dois vulgares insectos, da curiosa família dos efemerópteros, que deviam o nome precisamente ao facto de a sua esperança de vida média ser de … 24 horas, um simples dia pelo padrão humano, um piscar de olhos para uma tartaruga, um leve brisa para uma sequóia, um bocejo do universo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Efemerus?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sim, meu amor?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela entrelaçou as asas translúcidas nas dele, sentindo-o frio. O tempo esgotava-se.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Efemerus… sabes uma coisa? Adorei cada um dos segundos que vivemos juntos… esvoaçando por aí, fugindo da chuva, alimentando os nossos filhotes… e descobri algo que provavelmente tu ainda não descobriste, apesar de termos a mesma idade…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele fitou-a longamente, os olhos já baços de um fim eminente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- E o que foi.. que descobriste, Filia?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A voz fraquejava-lhe.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Descobri, meu companheiro de aventuras… que valeu a pena. Que um dia, uma primavera, um ano, um milénio… não alteram rigorosamente nada do que somos, ou do que vivemos… ou do que deixámos de viver. Amanhã… e disto tenho a certeza absoluta… eu, tu, todos os nossos amigos, seremos simplesmente memórias no baú de lembranças dos que vierem depois de nós. Portanto, meu querido Efemerus… valeu a pena, não concordas?<o:p></o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-68785594977261577202011-06-05T13:54:00.001+01:002011-06-05T13:56:07.906+01:00Ao acordar...<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBCh-JP3guKP7hE4wb7TbzmvQHZzpFDr69bj7RMaOdYDUQ9FuTYso6WEQyMcB-4V3VjpWhAVSX6wUrPZUNyorJJj4ma6ZaH6cWeljNu9nZI7pWJRO-OJQM1puj-3ntYLF-UZrCspnQ7xuM/s1600/ao_acordar.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 291px; height: 291px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBCh-JP3guKP7hE4wb7TbzmvQHZzpFDr69bj7RMaOdYDUQ9FuTYso6WEQyMcB-4V3VjpWhAVSX6wUrPZUNyorJJj4ma6ZaH6cWeljNu9nZI7pWJRO-OJQM1puj-3ntYLF-UZrCspnQ7xuM/s400/ao_acordar.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5614718528330588818" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Esfregou os olhos na penumbra, estranhando todo aquele silêncio.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Será assim tão tarde? – pensou – ou alguém se esqueceu de me chamar?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um bocejo, um esticão preguiçoso dos braços.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Em breve, recomeçaria a rotina diária; levantar, lavar a cara, vestir, beber um copo de leite, talvez acompanhado de uma torrada ou de uma fatia de queijo, apanhar à pressa os livros e cadernos, enfiar tudo na mochila, correr até à esquina, juntar-se ao Zé Manel e rumar à escola, para mais um dia de aventuras e desventuras.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mãe… - gritou, mesmo de olhos fechados – estou atrasado? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ninguém lhe respondeu. Os primeiros minutos do dia correspondiam invariavelmente a uma azáfama de tarefas apressadas, a mãe tentando arranjar-se e a gritar em simultâneo, pela porta entreaberta do quarto – Luís, não te esqueças de apanhar o dinheiro para a senha do almoço… vai buscar o equipamento de ginástica lavado, esse que tens aí está uma miséria…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Aos solavancos, ele lá cumpria o solicitado, entre duas mordidelas na torrada e um piscar de olhos à televisão.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mãe… - lá foi repetindo – estou atrasado?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ficou com a sensação de ter ouvido ao longe um gotejar abafado de palavras; talvez a mãe estivesse a falar ao telemóvel e por isso não lhe pudesse responder. A mãe dependia de mil telefonemas, era esse o seu trabalho.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um dia dissera-lhe:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mãe… são quase dez da noite… e ainda estão a telefonar-te do emprego?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E enquanto encolhia os ombros num gesto impotente, a mãe lá lhe foi explicando que secretariar a direcção de uma empresa era mesmo assim, por vezes surgiam assuntos fora de horas, reuniões para marcar ou desmarcar, pedidos de contactos, pontos de situação para assuntos urgentes, enfim… um rol de imprevistos que nada tinha a ver com o horário das nove às sete da maioria das pessoas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Em contrapartida, podia gabar-se de a sua própria vida ser tranquila, rotineira até; igual à de qualquer jovem de dezasseis anos, os dias na escola, os amigos, os namoros, a folia dos fins de semana, enfim… o normal, simplesmente o normal.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mãe… - e levantou um pouco mais o tom de voz – que horas são? Estou atrasado?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um jorro súbito de luz irrompeu pelo quarto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Abriu a muito custo os olhos, as mãos trémulas a proteger as pálpebras de tão ofuscante claridade.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mãe? – balbuciou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Senhor Luís… ora viva, como vai isso? Então, hoje está preguiçoso, é? Olhe que todos já estão a tomar o pequeno almoço, só falta você… quer ajuda para se levantar?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- M..Mãe? Mãe?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mulher de branco exibiu um sorriso compreensivo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Rita, senhor Luís, sou a Rita, então não me está a reconhecer? A enfermeira Rita… vá… quer que o ajude a levantar-se?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Rita? Enfermeira Rita? Sim, talvez… uma leve memória… nada de concreto, mas o rosto era-lhe familiar, sim…. Só não sabia de onde…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Você… - murmurou - … você não é a minha mãe… onde está a minha mãe?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A enfermeira Rita puxou os lençóis, ajudando-o a erguer-se lentamente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Oh, senhor Luís… pois não, claro que não sou a sua mãe… daqui a pouquinho, vai ver… já se vai recordar outra vez… eu sou a enfermeira Rita, não se lembra? Aqui da clínica… então o senhor Luís já não se lembra de quantos anos tem? A sua mãe já morreu… há muito tempo… e o senhor agora vive aqui connosco… e nós gostamos muito de o ter aqui… vá, apoie-se aqui no meu braço, isso… vá, um pouco mais de força… isso mesmo… agora a outra perna…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Com paciência infinita, esperou que ele se equilibrasse.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Luís Ezequiel Moniz Monteiro, 81 anos de idade… sindromas de Parkinson e Alzheimer.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um amanhecer sempre diferente, retorcido pelas memórias de um passado que já não existia mais, senão nas suas lembranças.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A realidade – conforme a enfermeira Rita presenciava todos os dias – era algo de muito subjectivo, para a vintena de doentes internados naquela clínica; cada um tinha a sua própria realidade, o seu próprio tempo presente. E ela, Rita, vestia todas as manhãs mil papéis, desde a mãe imaginária do senhor Luís a tantos outros, personagens fictícias de um tempo presente mas bem reais… para todos aqueles que ela ajudava a erguer da cama, a vestir, a alimentar-se, a deitar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- M…Mãe… você pode ir perguntar à minha mãe… se eu estou atrasado?<o:p></o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-28080714541927232342011-05-31T09:21:00.003+01:002011-05-31T09:25:19.929+01:00Todos os castelos nascem nas nuvens<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAbkFO8BP3vqjIKhVe6cxdXyusnPFjo93WnDpaPktf8YdN3sIUD3pN7gcw1YWz9lxJ0NP9g4PDiwVIEji0pF1GWFebGXSHYpViuDmHIvL6feLHKb5PmX070c90vgWkKYSYHwT-REkJQu35/s1600/Castelo+nas+Nuvens.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAbkFO8BP3vqjIKhVe6cxdXyusnPFjo93WnDpaPktf8YdN3sIUD3pN7gcw1YWz9lxJ0NP9g4PDiwVIEji0pF1GWFebGXSHYpViuDmHIvL6feLHKb5PmX070c90vgWkKYSYHwT-REkJQu35/s400/Castelo+nas+Nuvens.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5612792666107516866" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Por vezes – tantas vezes – a realidade assumia no baú das memórias um peso tão incerto quanto o da fantasia; simples flocos de algodão doce.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">O ontem, enquanto sinónimo de passado… travesti de sonhos desejados. O que era a realidade, senão o conjunto de todas as coisas que ele decidira aceitar como reais, verdadeiras? Ele decidira… simplesmente isso, ele decidira.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Fechou os olhos à espera do soar da primeira badalada.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Por vezes… tinha uma certa dificuldade em separar o que – no passado já vivido – realmente vivera, confrontado com a ficção de todas as personagens que já encarnara, confundido com todos os papéis que já declamara, as histórias que inventara, as pessoas de carne e osso que desenhara.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Em sonhos tão reais como dias de sol, viajara até aos confins do mundo, abraçara mil profissões, vestira todos os rostos e encenações de humano insatisfeito, criativo e… ingénuo.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">A primeira badalada não o fez estremecer. Tampouco a segunda.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; "> </span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">- Lembras-te de uma noite fria – também de aniversário – em que pegaste na tua bicicleta e me disseste: “ É hoje que vou ensinar-te a andar de bicicleta” . Lembras-te?</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Ele sorriu em compasso com a terceira badalada.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Lembrava-se sim.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Eram adolescentes, colegas de escola… e ela ousara confessar-lhe não saber andar de bicicleta.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">- Impossível – respondera ele, atónito – todo o mundo sabe andar de bicicleta.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">E após uma ligeiríssima pausa, contrapusera:</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">- E lembras-te tu daquele dia em que, pensando nós estar sozinhos na praia, descansados, rodeados de gente desconhecida, namorando tranquilamente… fomos surpreendidos por uma gritaria imensa e de repente, surgidos sabe-se lá de onde, apareceram todas as nossas filhas e netos, por uma mera coincidência, juntos todos no mesmo local, numa praia tão grande?</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">- Se me lembro… para além do embaraço, apanhei um susto…</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; "> </span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Dez… Onze… doze badaladas.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Só mais um segundo, mais um virar de página, um dia mais, um ano mais.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">- Parabéns, meu amor… agora já te posso chamar de octagenário…</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Ele riu-se, correspondendo ao beijo apaixonado da companheira de muitos anos.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; "> </span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Quem os visse ou ouvisse assim… aceitaria todas aquelas recordações com a condescendência de uma vida bem vivida, repleta de peripécias e momentos de partilha, de pequenas cumplicidades.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Como poderia alguém suspeitar que nada aquilo acontecera realmente?</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Ele nunca a ensinara a andar de bicicleta, tal como nunca partilhara os bancos da escola com ela, haviam-se conhecido já bem adultos. Nunca haviam sido surpreendidos pelas filhas ou netos na praia, tal como muitas outras peripécias narradas com a emoção real de quem viveu cada segundo daquele passado fantasiado.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Sempre assim fora, entre eles os dois.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">A divagação de um deles era o rastilho imediato para o deleite do outro.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Ou seria simplesmente o polvilhar da realidade com salpicos de algodão doce?</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; "> </span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Não.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Aquela… parte ficção, parte realidade, era a realidade por inteiro, fazia parte das memórias de ambos, existia como o declamar de um texto em palco, cada um deles bem ciente das suas deixas.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Aquele passado, real ou imaginário… era deles… e só deles.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; "> </span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">- Olha… sabes uma coisa? E se bebêssemos uma ginginha para celebrar?</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">- Uma ginginha? Ai o que tu me foste lembrar… a primeira vez que provámos uma ginginha… oh… ainda te lembras onde foi, ainda te lembras?</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">- Claro que me lembro… até me lembro do que tu vestias naquele dia… e vais ver que não me engano…</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; "> </span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">E lá foi desfiando mais um rol de memórias que para vocês, amigos leitores, serão tão reais como as palavras deste texto.</span><span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" ><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">E para eles, as personagens desta história parte real, parte ficção… também.</span><span><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Afinal... a quem mais importa a verdadeira realidade das coisas... senão a quem a vive?</span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-33152427402398559202011-05-26T11:23:00.002+01:002011-05-26T11:27:03.219+01:00As 365 palavras<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNaKU2TPlwr3DsqKk3gevzPkEoGEBYsNEf83Fp6Ut2HvJ2Do4iGAlHp3Bb8EtF6vQ9A4JvHgTtYXo7Xvy1P5mFyKWLACPlAhdT6EX8wQVEA1UMdkZzWGGLA-CM0PLMkMHD9cj90BenwqqY/s1600/circulo.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 360px; height: 360px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNaKU2TPlwr3DsqKk3gevzPkEoGEBYsNEf83Fp6Ut2HvJ2Do4iGAlHp3Bb8EtF6vQ9A4JvHgTtYXo7Xvy1P5mFyKWLACPlAhdT6EX8wQVEA1UMdkZzWGGLA-CM0PLMkMHD9cj90BenwqqY/s400/circulo.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5610969362083262690" /></a></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">AMOR…PAZ…PROSPERIDADE…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Saúde… onde estava a caixa azul da saúde? Era capaz de jurar aos seus botões que ainda na véspera as ordenara de novo, desta feita por ordem alfabética. Saúde, saúde, letra “S”… essa agora… onde estaria escondida?… ahhh….<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Com um suspiro de alívio, pôs-se em bicos de pés, esticando-se toda. Não se lembrava de a ter guardado na última prateleira, mas enfim… o importante era que a encontrara.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Retirou-a do local e pousou-a sobre a mesa do pequeno quarto, há muito transformado <st1:personname productid="em arrecada ̄o. Casas" st="on">em arrecadação. Casas</st1:personname> pequenas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um dia… vou mesmo ter que pôr alguma ordem nisto… - pensou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E antes que cedesse à tentação de no imediato arrumar algumas peças de roupa soltas, ou finalmente retirar daquele canto a velha bicicleta de ginástica, abriu o fecho do colar, retirou a medalha e depositou-a apressadamente na pequena caixa azul.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Acto contínuo, pegou numa outra caixa – em tudo idêntica à primeira, excepto na cor – fechou as luzes e rumou à sala.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">No fim-de-semana… arrumo tudo no próximo fim-de-semana… - um pensamento promissor, no mínimo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A caminho da sala, apanhou a chávena de café fumegante, esquecida na cozinha.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Abriu as janelas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Primavera… finalmente primavera…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Enquanto sorvia o café demasiado quente, ia lançando olhares disfarçados à pequena caixa entreaberta que trouxera da arrecadação; quadrada, de cartão cor-de-rosa, sem laços ou artifícios. O importante… era o seu conteúdo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Uma medalha, um círculo fino de prata.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um pequeno círculo de prata… em tudo idêntico aquele que retirara do pescoço, minutos antes, com a palavra “AMOR” gravada.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Colocou-o no pescoço, com a prática adquirida de um gesto tantas e tantas vezes repetido.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">AMOR…PAZ…PROSPERIDADE…SAÚDE…ALEGRIA…AMIZADE…ALTRUISMO…GRATIDÃO…FÉ…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Quantas caixas possuía, cada qual contendo um pequeno círculo de prata, com uma palavra escrita? Quantas palavras escritas, quantos pensamentos positivos expressos em letras, em vontade, em actos de fé? Vinte, cinquenta, cem?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Muito mais que isso.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Exactamente… 365 caixas, cada uma contendo um pequeno círculo de prata, uma palavra de optimismo e gratidão à vida.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">HONESTIDADE…PERSEVERANÇA…PAIXÃO…ESPERANÇA…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um dia, há muito tempo atrás… a sua melhor amiga dissera-lhe:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“ Sabes…creio que andas demasiado triste… e sem razão. A vida é muito mais que as tuas tristezas… porque não tentas transportar contigo as boas ideias, os bons pensamentos? “<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O resto… surgira naturalmente, em conversa ao serão, numa noite de Inverno. Alguns cálices de vinho do Porto depois, a ideia transformara-se num projecto, e de projecto a realidade…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">No seu 40º aniversário… comprou um fio de prata, o mais fino, barato e simples que encontrou. E no mesmo dia, o primeiro circulo de prata. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ali gravou a primeira palavra, já sabendo antecipadamente que em muitos dias usaria penduradas no fio de prata não uma, mas duas ou mais medalhas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">AMOR<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Fora a primeira palavra gravada, a primeira das 365 que laboriosamente gravara, depois de muitas noites a escolher, seleccionar, separar. Nunca imaginara que o vocabulário pudesse albergar tantas palavras esquecidas de boas intenções.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sorriu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Amanhã… usarei a PROSPERIDADE… dava-me jeito uma ajuda…para reformar a casa, talvez uns sofás novos… e o AMOR, claro… sempre o amor…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-17089566571251453252011-05-22T11:55:00.001+01:002011-05-22T11:57:59.624+01:00Uma pequena história...<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVlylXQGfrAWYuje-XSrl5NpMKj5nnWwvtMTy14awaW1ep5PWcHUZ4NrhVDCA3zNMi96vcfHmJNvpXIFoDZRp5KS8bl-vk-g85mXfKoilfsvtuzNHVCWHPek7zeGWuBe_e_l6RHtEzXgy-/s1600/mal-me-quer.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 360px; height: 367px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVlylXQGfrAWYuje-XSrl5NpMKj5nnWwvtMTy14awaW1ep5PWcHUZ4NrhVDCA3zNMi96vcfHmJNvpXIFoDZRp5KS8bl-vk-g85mXfKoilfsvtuzNHVCWHPek7zeGWuBe_e_l6RHtEzXgy-/s400/mal-me-quer.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5609492687135096306" /></a></div><div><br /></div><div><br /></div><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVlylXQGfrAWYuje-XSrl5NpMKj5nnWwvtMTy14awaW1ep5PWcHUZ4NrhVDCA3zNMi96vcfHmJNvpXIFoDZRp5KS8bl-vk-g85mXfKoilfsvtuzNHVCWHPek7zeGWuBe_e_l6RHtEzXgy-/s1600/mal-me-quer.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"></a><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Poderiam ser Caim e Abel.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas não o eram, apesar de igualmente nascidos no paraíso.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E tal como as míticas figuras dos tempos da Criação… também um deles pôs fim à vida do irmão, talvez cego de ciúme, vaidade, luxúria, ninguém o saberá jamais.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Irmãos gémeos, reluzentes, belos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Malmequer… e Bem-me-quer.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A história preferiu esquecer o sórdido destino de Bem-me-quer. Nunca será contado nos bancos de escola que Malmequer, num belo dia de primavera, arrancou as pétalas - uma a uma - ao irmão e o deixou indefeso ao sol, para secar até morrer. Quando muito, restará o nome – Malmequer – invocando um sentir maléfico de que ninguém mais recordará a origem.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas a história, na sua imprevisível roleta, ditou que fosse o irmão sobrevivente a expiar por toda a eternidade a morte do desditoso Bem-me-quer. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E é assim que todos os dias, desde um passado longínquo… alguém colhe um malmequer e mesmo sem saber… evoca o nome do irmão morto, vítima do ciúme daquele que agora, sem saber, morre da mesma forma, vendo ser-lhe arrancadas com dor – uma a uma – todas as pétalas… e depois abandonado para secar… e morrer. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Malmequer…Bem-me-quer…Malmequer…Bem-me-quer…Malmequer…<o:p></o:p></span></p><br /></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-35737452322241191942011-05-17T01:24:00.002+01:002011-05-17T01:29:16.992+01:00Saudades do Futuro<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvcYKrYixYDQLP_M4kLjQhsMt41vLPwh3Q1RXOXeZP_Xa-H2tamuhFX679Sne6HNKDQzQBtjUU6aELGybuB0SSMZxfRSHdzDutS6Zi_crkdHJ57plSTfGkQKmotrnSro9DIHW6HM2sw7mP/s1600/monte.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 324px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvcYKrYixYDQLP_M4kLjQhsMt41vLPwh3Q1RXOXeZP_Xa-H2tamuhFX679Sne6HNKDQzQBtjUU6aELGybuB0SSMZxfRSHdzDutS6Zi_crkdHJ57plSTfGkQKmotrnSro9DIHW6HM2sw7mP/s400/monte.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5607474595252975362" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Algo está errado… profundamente errado… <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um pensamento insistente, incómodo como uma dor de dentes; uma falha na muralha do espírito.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Passou a mão pela barba rala, num gesto inconsciente que repetia vezes sem conta, de cada vez que se sentava – como naquele momento – entregue aos seus pensamentos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Algo está errado… - repetiu num murmúrio.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ninguém o ouviu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O entardecer de Maio – igual a tantos outros – sibilava de ventos e trinados de pássaros, de papoilas vermelhas e espigas verde amarelo de trigo e centeio; um céu azul profundo, daquele azul que só os olhos mais azuis conseguem imitar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Afastou as ervas altas com as mãos, deixando a descoberto os últimos tijolos do que fora, em tempos idos, uma eira.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não era suficientemente velho para albergar na memória imagens das mulheres peneirando os grãos de cereal sobre aquelas pedras; mas o pai descrevera-lhe o ambiente, apontara a dedo o deambular dos caminhos sinuosos que contornavam aquele monte – nome antigo que significava fazenda ou habitação no cimo de um morro.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Monte dos Albardeiros, assim se chamava.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Talvez pelo extinto oficio dos albardeiros, homens rudes mas de mãos hábeis no trabalhar do couro, na construção de selas, albardas e alforges.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Fosse como fosse… o implacável passar dos anos ditara o abandono, os sons dos rebanhos de ovelhas a dar lugar ao avançar das ervas, ao secar dos eucaliptos e ruir dos telhados.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A antiga eira resistira heroicamente, disfarçada da inclemência do sol pelo manto de ervas e musgos que a camuflavam por completo na paisagem.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Existem lugares assim… que mesmo sendo banais, evocam sensações únicas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Talvez que outros procurassem o refugio e silêncio no alto de uma árvore, à beira mar, numa auto-estrada, num sótão abandonado, no alto de uma cachoeira. Ele descobrira naquele pequeno círculo de tijolos avermelhados, rodeado de ervas altas, um sereno pedaço do paraíso… e ali se refugiava, sempre que o espírito lhe pedia um pouco de paz e clemência.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mais um… aniversário, simplesmente isso. Mais um.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pudessem os desejos ser ouvidos e levados pelo vento… e ele gritaria a plenos pulmões o que lhe ia na alma.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas o vento não ouve nem faz eco de mais nada, senão dos próprios passos. E os desejos… ah… de que serviria gritar ao vento os seus desejos?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Algo está errado…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Há muito que aquelas simples palavras lhe atormentavam os sonhos, como uma sensação indefinível de um grão de areia raspando na engrenagem bem oleada dos dias monótonos e cinzentos que vivia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Monótonos, cinzentos, inócuos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Reclinou-se sobre o manto verde e desapareceu sob a linha do horizonte, bem abaixo das espigas, malmequeres, cardos e hortelâs.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Observou sem pressa as primeiras estrelas no céu, o subir da lua no firmamento cristalino.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A sensação familiar de um nó na garganta empurrava-lhe os pensamentos em direcções por desbravar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Medo do desconhecido?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Medo de arriscar?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Chega um momento… em que a palavra “urgente” assume um peso nunca antes revelado. Talvez fosse tão somente um mero aniversário, é verdade. Ou uma desculpa inconsciente para reflectir sobre o que era… ou aquilo em que se estava a transformar. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ou uma forma muito criativa de se continuar a enganar a si mesmo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Medo do desconhecido… medo de sofrer…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O murmúrio morreu-lhe nos lábios.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Uma estrela cadente rasgou o azul quase negro dos céus, um breve instante de luz desenhado a fogo sobre o manto de estrelas. Um desejo por conceder.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um desejo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Porque não? Um desejo, um mero desejo, um único desejo, em simples desejo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Porque não?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Fechou os olhos e cerrou os punhos, num combate imaginário contra os deuses e o destino.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Desejo que…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O vento não amainou, as criaturas da noite não interromperam os seus afazeres, a lua não se tornou mais brilhante nem as estrelas mais incontáveis nos céus. Nada mudou naquela penúltima noite de Maio, senão talvez a inquietação do espírito.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A vida é feita de opções, dizem.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Algumas certas, outras erradas, outras incertas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas acima de tudo.. é feita da capacidade de mudar, de transformar, de refazer, de aperfeiçoar ou de simplesmente … criar algo de novo, diamante bruto de cinzas feito.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E também.. de voltar atrás, não aquele voltar atrás em busca de passados já gastos… mas o voltar atrás para apanhar do chão os diamantes que por vezes se jogam fora, pensando ser vidro baço.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E entretanto… eis que desponta a manhã… <o:p></o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-81605795462302719302011-05-07T19:16:00.003+01:002011-05-07T19:18:54.019+01:00As olheiras da concórdia<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi66X2CLtF9JoX4HID1qOmYFPHUkvbhv8oPHYiSVwHSy_p3s9AiQXOq0A2912_6IQn06zT600to812UG-KS6GLk9sRMgQSHkm1I2ugpCHImvDIRkvVPk8DhQEjVfzW00yOJwLmo4qlOKlyj/s1600/olheiras.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 235px; height: 294px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi66X2CLtF9JoX4HID1qOmYFPHUkvbhv8oPHYiSVwHSy_p3s9AiQXOq0A2912_6IQn06zT600to812UG-KS6GLk9sRMgQSHkm1I2ugpCHImvDIRkvVPk8DhQEjVfzW00yOJwLmo4qlOKlyj/s400/olheiras.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5604039979396833698" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><span style="mso-spacerun:yes"> </span>Onde vais?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não sei… sinceramente nem sei… só sei que vou…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Poderias ficar, só um pouco mais…conversar, talvez?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Gostaria muito… mas sabes, creio que já esgotámos as palavras…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não digas isso… connosco as palavras nunca se esgotaram…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não, não se esgotaram, é certo. Mas cansaram-se, de tanto se digladiarem entre si…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mas isso só acontece por tu seres um teimoso, um incorrigível teimoso, nada mais…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Talvez, sim… talvez que a minha teimosia e a tua ânsia de controlar todos os átomos em teu redor…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não sejas assim, eu não sou controladora… preocupo-me contigo, simplesmente isso…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sei que sim, do teu jeito… talvez como também sintas porventura a minha teimosia, sempre que faço algo a pensar em ti… e que não te agrade…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Então… se nos entendemos tão bem… porque partes? Sabes que gosto de ti, acima de todas as coisas…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sei… tal como eu também gosto de ti, muitas vezes mais que de mim próprio…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Então… não partas… fica…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não posso… voltaríamos em breve a brigar e a dardejar farpas… como um eterno repetir de dias já passados…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mesmo assim… não partas… fica…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mas porquê? Qual o sentido de ficar, já antevendo que amanhã, na próxima semana ou em outro dia qualquer brigaremos de novo… magoando-nos mutuamente? Mais vale simplesmente… deixar assim… e não sofrer mais…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não… não podes ir… isso seria desistir… não desistas. Olha… quando vires duas pessoas – pessoas normais, assim como nós – acabadas de brigar… sabes como reconhecer se são um casal… ou um simples par de namorados?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não estou a compreender onde queres chegar…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Já perceberás. Mas primeiro responde-me. Saberias distinguir tratar-se de um casal ou de um simples par de namorados?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não, claro que não… como vou saber?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Pois olha… é bem simples. Pelas olheiras.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Pelas olheiras? Continuo sem compreender…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sim, as olheiras… é que sabes…depois de uma briga, mesmo daquelas bem feias, o par de namorados despede-se – ou nem isso – cada um ruma ao aconchego de sua casa, e na tranquilidade do sono… e dos mimos da família… a zanga dilui-se, esfuma-se, reduz-se a um mero incidente dos dias… e na manhã seguinte, quando se encontram de novo, aqueles dois rostos irradiam saudade, arrependimento… vontade de recomeçar tudo de novo…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- E com o casal…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Com o casal… a briga vai com eles para a cama, fica estendida bem no meio dos lençóis como uma terceira presença, corta-lhes as palavras, tira-lhes a vontade de sonhar, reduz o descanso a um mero farrapo, aqui e ali ainda cortado por alguns restos de conversa inútil. E quando amanhece e ambos abrem os olhos, sabem qual o rosto que encontrarão pela frente… entorpecido de olheiras e do sono que não chegou a ser descanso. E então… terão que encontrar forças e inspiração… para fechar a terceira presença no armário e começar um novo dia… quer faça sol ou chuva, seja primavera ou Outono… é essa a diferença…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele pousou a mala no chão e olhou para a fechadura da porta.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Desistir… ou tentar de novo?<o:p></o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-82096145257481476942011-05-02T20:08:00.002+01:002011-05-02T20:14:03.332+01:00Janela do mundo<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_DLAYIu-DxI2aYjHJGYF3lcYiWUFGhIJDW3ee8Ipdf30f_UjgdFcoyOvpUGFq91Llhzbx5URxxzlvqRg1xZKArcfyStdvlX1bPH8KewqSnuwTZcgBWOB243FZnktkmGKhrlePaTeIbgNu/s1600/janela.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_DLAYIu-DxI2aYjHJGYF3lcYiWUFGhIJDW3ee8Ipdf30f_UjgdFcoyOvpUGFq91Llhzbx5URxxzlvqRg1xZKArcfyStdvlX1bPH8KewqSnuwTZcgBWOB243FZnktkmGKhrlePaTeIbgNu/s400/janela.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5602198760791080786" /></a></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">( Foto de minha autoria - Cacela velha, Algarve )</div><div><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mestre… algo me atormenta…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Percebo que sim, meu amigo, percebo que sim… estarás melancólico, porventura?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Melancólico? Não sei definir, mestre… é um misto de tristeza, apreensão… como se estivesse à janela a ver passar o mundo…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- É um pensamento deveras interessante, esse… <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Interessante, Mestre? Não. Não é interessante… é algo mais como uma solidão palpável, uma espécie de abandono…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Fiquei curioso… e entretanto, suponho que já tenhas reflectido sobre a questão…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Já… já pensei muito… e nada mais encontro senão a cauda dos meus próprios pensamentos… porque caminho em círculos, mestre?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ah, meu amigo… quem melhor que tu mesmo para descobrir as respostas que procuras? Mas… repito, fiquei curioso… falaste em abandono, em solidão… depreendo que a analogia com o veres passar o mundo da tua janela… terá a ver com esse facto?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Certamente, mestre. Todos passa e ninguém me vê… serei assim tão invisível aos olhos dos que me rodeiam?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O mestre sorriu, em contraste com a expressão de pesaroso desânimo do discípulo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sabes… quem anda na rua tem uma certa dificuldade em adivinhar quem se oculta por trás das janelas de cada casa… todas elas parecem iguais, principalmente quando fechadas… Já experimentaste abrir as janelas de par em par ou, melhor ainda… sair para a rua e tropeçar nos que ali passam?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p></div><div><br /></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-66941529406377117162011-04-28T15:44:00.003+01:002011-04-28T15:47:27.044+01:00Rastilho de sonhos<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQh0IF3vwHz6c1csT2cz7ZeE1ZUP0xzFxdze9mMrfVQ0uFICDFyDkyviTwgSoIwwKSYw4OALjQ5XMm_y-CsqELznoYLHe1n7kFjvrjNO095OMvWWF868spXmyxpPr4Mov4LMrlGjR7I5Kp/s1600/P1011468.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQh0IF3vwHz6c1csT2cz7ZeE1ZUP0xzFxdze9mMrfVQ0uFICDFyDkyviTwgSoIwwKSYw4OALjQ5XMm_y-CsqELznoYLHe1n7kFjvrjNO095OMvWWF868spXmyxpPr4Mov4LMrlGjR7I5Kp/s400/P1011468.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5600645671676179042" /></a></div><div><br /></div><div><br /></div><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQh0IF3vwHz6c1csT2cz7ZeE1ZUP0xzFxdze9mMrfVQ0uFICDFyDkyviTwgSoIwwKSYw4OALjQ5XMm_y-CsqELznoYLHe1n7kFjvrjNO095OMvWWF868spXmyxpPr4Mov4LMrlGjR7I5Kp/s1600/P1011468.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"></a><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Houvera um tempo – lembrava-se bem – em que tudo se afigurava como urgente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Crescer era urgente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Amar era urgente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Marcar posição era urgente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Contestar era urgente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Viver era urgente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Tudo era urgente… mesmo que nem sempre soubesse o porquê.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Porque o importante… era mostrar ao mundo que existia, deixar uma pegada eterna na poeira dos dias.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não bastava SER. Era urgente que os outros soubessem que ele era, que estava a “Ser”.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Houvera também um tempo em tudo se podia contar, medir, comparar, ultrapassar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ser mais forte, mais sedutor, mais crítico, mais criativo, mais, mais… sempre mais qualquer coisa.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A vida é feita de muitos tempos – pensou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Recuou dois passos, encostando-se à parede caiada de branco; sim, aquela memória de um tempo ido ainda subsistia, trinta Invernos depois, a adolescência irreverente transformada numa meia idade que não sentira chegar, nem aproximar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Aos olhos de todos os espelhos, reconhecia-se com o mesmo olhar, talvez mais enrugado é certo, talvez mais grisalho, talvez mais… velho; mas o mesmo olhar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um rodopio de lembranças envolveu-o numa súbita espiral de melancolia – sim, recordava-se bem, fora numa manhã, a caminho da escola, acompanhado de um amigo. Sem motivo ou pretexto, puxara de uma caneta grossa e rabiscara aquelas palavras na parede branca amarela de uma rua estreita e deserta.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O amigo ajudara-o em silêncio, retocando os contornos e limpando a cal esboroada da parede.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Depois continuaram rua fora, missão já cumprida.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sonhar? Sim, certamente… lembrava-se do que queria dizer com aquele pequeno escrito, qual testemunho numa garrafa lançada ao mar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><b><span class="Apple-style-span" >“NINGUÉM PODE SONHAR POR TI”</span></b><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Está fantástico, não está?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele acordou da letargia, subitamente devolvido ao tempo presente pela voz cristalina.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Se não se importa… - e fazia-lhe um gesto a pedir passagem – talvez daí eu consiga fotografar melhor…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Claro, claro, desculpe… - e cedeu-lhe passagem, desviando-se um par de metros – aqui já não apareço na fotografia, pois não?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela sorriu, um olho a espreitar detrás da máquina.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Obrigado… adoro grafitis, já vi muitos grafitis… mas este é simplesmente… sublime.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E colocou uma expressão de encanto genuíno que o deliciou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sim… creio que tem razão… eu também me perdi, olhando para ele…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ficou a vê-la, uma foto, duas, três, afinal meia dúzia. Tinha idade para ser sua filha, uma pincelada azul nos cabelos negros, as roupas de cigana fora de moda que ele tanto apreciara, nos seus tempos de adolescência.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sentia que ela se identificara com a mensagem.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Há quanto tempo estará isto aqui? Quem o terá escrito? Já imaginou? – e ia passando os dedos ao de leve sobre as letras escarlate – o que estaria a pensar a pessoa que escreveu isto aqui? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele ainda abriu a boca, impelido por instinto em dizer à jovem turista que fora ele o autor de tão singular expressão na parede. Mas claro que nunca o faria, não teria o mínimo cabimento, nem sentido.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sim… - limitou-se a concordar com um aceno de cabeça – tem razão… o que estaria a pensar o autor, quando escreveu isto?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela lançou-lhe um sorriso de censura.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Autor… ou autora. Não sabemos, pois não?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Autora? …ah, claro, claro… pois, autor ou autora, tem razão… nem está assinado…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela remexeu na bolsa, aparentemente em busca de algo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- O senhor… faça de conta que não está a ver nada, ok? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E perante o olhar incrédulo dele, lá puxou de um pequeno objecto, que de pronto se revelou ser um lápis.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E sem se importar mais com a presença dele, encostou-se à parede e rabiscou algo. Depois virou-se, lançou-lhe um adeus e seguiu adiante rindo, como criança apanhada a meio de uma travessura.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><b><span class="Apple-style-span" >“ E que todos quantos passem por aqui se atrevam também a sonhar”.</span></b><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ficou a olhar para o novo rabisco na parede. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">As palavras – sabia-o bem – eram livres.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E por um ínfimo mas saboroso momento, sentiu-se feliz… enquanto causa – rastilho de sorrisos<span style="mso-spacerun:yes"> </span>e de sonhos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sim… ela escrevera bem… o que vale a vida… sem esse atrevimento, essa rebeldia, essa coragem de … contra ventos ou marés… ousar sonhar?<o:p></o:p></span></p><br /></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-46648361452319837542011-04-22T15:24:00.001+01:002011-04-22T15:26:00.220+01:00Renovação de contrato<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0DA2ZxY4iprAnY3ynG97MiXRkvfudGhff6Wg3y27-564WT-PQ69Ldt-sqe8A-mDYJH666N-nu9W_REjBs4ttc6s0oT7BBEOrtigkYHRXO4SOh_V14CTbRjHiohOVqY21-p-Q5CXNXgASx/s1600/marcoCORREIO.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 314px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0DA2ZxY4iprAnY3ynG97MiXRkvfudGhff6Wg3y27-564WT-PQ69Ldt-sqe8A-mDYJH666N-nu9W_REjBs4ttc6s0oT7BBEOrtigkYHRXO4SOh_V14CTbRjHiohOVqY21-p-Q5CXNXgASx/s400/marcoCORREIO.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5598413941528348882" /></a></div><div><br /></div><div><p style="margin-bottom: 0cm"><br /></p> <p style="margin-bottom: 0cm">“<span >Ex.mo Sr</span></p> <p style="margin-bottom: 0cm"><span >Leonel Penedo da Conceição</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><br /></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Vimos por este meio relembrá-lo que dentro em breve expirará o contrato celebrado entre vós e a nossa empresa, “Paraíso na Terra, sociedade sem fins lucrativos, S.A”.</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Esperamos continuar merecedores da vossa confiança, enquanto prestadores de serviços de felicidade, apostando na seriedade e transparência.</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Face ao actual estado de crise, não aumentaremos – durante toda a vigência do novo contrato – um só cêntimo à vossa prestação; o nosso serviço continuará a ser, como sempre foi até hoje... grátis.</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Queira devolver-nos por favor o cupão de resposta devidamente preenchido e assinado, para poder usufruir de mais um ano de serviços de felicidade, com cobertura total em caso de tristeza, depressão, ansiedade e todo o tipo de catástrofes naturais, sociais ou pessoais.</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Recordamos também que... “ </span> </p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><br /></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Não era necessário reler as restantes linhas da missiva.</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Estava perfeita.</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><br /></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Sorriu.</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Não era todos os dias que enviava por correio uma carta para si próprio.</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >E vendo bem as coisas... qual o problema?</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Sim... porque não um seguro contra a tristeza, mesmo que imaginado, mesmo que na forma de uma folha de papel redigida pelo seu próprio punho... e remetida a si mesmo?</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >A loucura – sabia-o bem – era simplesmente um estado de espírito, nada mais.</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><br /></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">“ <span >Rua das janelas azuis... número sete... Vila flor...”</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><br /></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >Empurrou suavemente o envelope e este desapareceu de pronto na ranhura estreita do marco de correio.</span></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><br /></p> <p style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; "><span >- Pronto, já está... e venha de lá mais um ano com cobertura total contra a tristeza...</span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-90185531204214735622011-04-10T00:06:00.001+01:002011-04-10T00:08:16.910+01:00Uma aula... inesperada<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEWAbH-5ru-YUewCB8GjE_U3iLal65L-f18jLhYVpbhGIpKk85NnhaJpdSt2qY3g0Q0lxY3dRXpVC4l04UAfF0rzQfuiTFWBIX82jZV9TVwUskfQiRRdoJ146j-k0FZ8f8ZqB-_icDxgFA/s1600/barco2_Layer_1.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEWAbH-5ru-YUewCB8GjE_U3iLal65L-f18jLhYVpbhGIpKk85NnhaJpdSt2qY3g0Q0lxY3dRXpVC4l04UAfF0rzQfuiTFWBIX82jZV9TVwUskfQiRRdoJ146j-k0FZ8f8ZqB-_icDxgFA/s400/barco2_Layer_1.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5593724337336557570" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mãe… sabes? O professor não gosta de mim…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe pousou a colher de madeira no fogão e olhou de relance para o pequeno Miguelito, queixo enterrado nas mãos e expressão infeliz.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ora essa, Miguelito, que coisa para se dizer… isso nem parece teu… <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O filho torceu o nariz, afastou os cadernos para o lado e pôs-se a rodopiar a esferográfica como se esta fosse um pião.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mas é verdade, mãe… o professor de Integração, é desse que estou a falar, tu conheces, mora ali ao pé do teu trabalho…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Eu sei quem é o professor de Integração, Miguelito… e olha que é uma excelente criatura… Amândio, ou Amaro…. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Amadeu – lá corrigiu o Miguelito – trocas sempre os nomes – o senhor Amândio é o porteiro da escola…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ah, sim… claro, claro, que cabeça a minha… professor Amadeu, é isso mesmo…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela levou a colher de madeira à boca – talvez mais um pouco de sal, sim - e espiou o relógio. O tempo voava, as lides domésticas requeriam tempo, muito tempo… e tempo era precisamente aquilo que não tinha.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Já preparaste a mochila? Não te esqueceste de nada? Hoje não é dia de ginástica? Já guardaste os ténis?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O Miguelito lá acenou que sim com a cabeça, continuando a tentar transformar a esferográfica num pião.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe deixou-o em silêncio uns segundos, esperando o ferver da sopa; aproveitou para colocar os pratos, os copos, talheres – mais uma refeição à pressa – apanhar duas peças de fruta e um pequeno pudim.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ser pai e mãe em simultâneo não era fácil; Não impossível… mas nada fácil mesmo. Por sorte, o horário escolar encaixara sem grande ginástica no seu, permitindo até por vezes almoçarem juntos, como naquele caso. Claro que tudo tinha que ser feito em corrida, claro que os esquecimentos aconteciam. Na semana anterior, levara por engano o lanche do filho para o banco, esquecera um dossier de serviço na reunião de pais e inutilizara por completo uma camisa branca ao deixar cair sobre ela os pincéis do Miguelito, entretido no trabalho de geografia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas a vida também era feita de pequenas peripécias, e nem todas ruins.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Por coincidência, aquele mesmo professor – Amaro, Amândio, Amadeu, trocaria sempre os nomes – fora o protagonista.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Estacionara o automóvel no local de sempre. E como habitualmente, sempre à pressa, caminhando a passo largo até ao banco, ao mesmo tempo que bebia o café. E vai daí… uma mão segurando o copo de plástico, a outra tentando não deixar cair os dossiers… como reparar no professor, imóvel defronte da porta de casa?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O infeliz procurava lembrar-se se guardara as chaves de casa, quando sentiu o embate.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Primeiro o embate, logo depois o café bem quente projectado sobre a camisa, a gravata a mudar subitamente de cor.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Oh… perdão, perdão, perdão… - e a mãe do Miguelito desfazia-se em desculpas – não sei como aconteceu, professor… a minha cabeça…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele abria e fechava a boca, sem saber se rir ou protestar. Mas antes de ter tempo para algo mais, já ela puxara de um lenço e zás… vá de atacar a gigantesca nódoa, num gesto mais simbólico que útil – desculpe-me… ia completamente distraída…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Passaram-se alguns segundos – pelo menos assim lhe pareceu – e quando ergueu os olhos, ainda agarrada à camisa do professor, encontrou-o com um sorriso desarmante.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Anh… desculpe… Mariana… dona Mariana, creio…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela abanou a cabeça, concordando – sim, sim… a mãe do Miguel…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele continuava a rir.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Dona Mariana… já me pode largar… - e com o dedo apontava para cima, algures para uma das varandas do primeiro andar, onde outra mulher seguia atentamente o desenrolar dos acontecimentos - … ou a minha mulher ainda pensa que nós temos um caso…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Dona Mariana, mãe do Miguelito, empregada bancária, dona de casa e levemente distraída… ergueu devagar o olhar… viu a mulher debruçada da amurada, os olhos sorridentes do professor Amadeu… e soltou-o de repente, como se toda a vergonha do mundo lhe tivesse descido sobre a cabeça. Sim… por favor… que a terra se abrisse e a engolisse… depressa, depressa, depressa. Que vergonha…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Deu consigo a sorrir – a sopa já fervia – só de recordar o incidente embaraçoso.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Vá, Miguelito… vamos despachar-nos, o almoço está pronto…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele lá foi arrumando lentamente os cadernos, o estojo dos lápis e a inseparável playstation, enquanto<span style="mso-spacerun:yes"> </span>a mãe despejava o caldo fervente sobre os pratos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- E agora… já me podes então contar essa história do professor Amaro não gostar de ti…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Amadeu, mãe… Amadeu. O professor chama-se Amadeu…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ah, sim… claro, o professor Amadeu. Ora então conta lá as tuas desventuras, meu filho…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Miguelito olhou para a mãe, sem perceber ao certo se a ironia era sentida ou mera brincadeira.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ele deitou fora um trabalho que eu fiz… na sala…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe empertigou-se toda, sem acreditar muito bem no que acabara de ouvir.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- O quê? Não devo ter percebido bem. O professor de Integração deitou fora um trabalho… um trabalho que fizeste na aula, foi isso?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Miguelito acenou que sim, depois que não.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mais ou menos… ele deitou-o para a água.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe ficou a olhar para ele, boquiaberta. Miguelito sempre tivera o condão de a surpreender com tiradas inesperadas… mas desta feita, esmerara-se, sem dúvida.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sentou-se, a situação requeria um pouco de calma. Certamente existiria uma explicação plausível para tudo… até porque a imaginação fértil do pequeno Miguel era bastante avançada… tendo em conta os seus onze anos de idade.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Muito bem, muito bem… prometo ficar caladinha… não te interrompo… e tu contas-me toda essa história, muito bem contadinha, pode ser? Com vírgulas e tudo, mas mesmo tudo. Pode ser?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele atacou um minúsculo gole de sopa, queimou-se, protestou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E lá contou a sua história.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Pois olha… foi assim… logo de manhã, quando entrámos, ele pediu-nos para tirar uma folha do dossier… e disse para escrevermos um texto sobre uma frase que ele iria colocar no quadro. É esquisito… ele não costuma fazer nada destas coisas, quer sempre ver os nossos cadernos… mas desta vez até o Zé Luis ficou sério, ninguém percebeu muito bem. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E como demorasse a retomar a história, a mãe lá o apressou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Bem… até aí percebi. E o que escreveu ele no quadro?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O Miguelito fez uma expressão de estranheza.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Uma coisa esquisita, já te disse. “ Eu sou culto, tu és inteligente, ele é esperto.” Foi só isto. E disse que tínhamos meia hora para escrever o que quiséssemos sobre aquela frase.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe conteve um sorriso. A disciplina de Integração do Miguelito sempre fora um manancial de surpresas, desde que o professor Amadeu a assumira na escola. E a pretexto de um currículo onde seria suposto falar de cidadania, ética, cultura cívica… surgiam por vezes aulas no mínimo… inesperadas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sim… talvez fosse essa a palavra adequada para descrever o professor Amadeu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Uma personagem… inesperada.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- E então? O que escreveste tu sobre a frase do quadro? Estavas inspirado?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O Miguelito fez que não. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não… ninguém sabia o que havia de escrever, mãe… ele até nos deixou conversar uns com os outros, imagina… e ficou sentado a olhar para nós e a sorrir… muito estranho, mãe, mesmo muito estranho… e nós escrevemos algumas coisas, a Maria Luísa escreveu a folha inteira, não sei como ela conseguiu… o Zé Luis só fez duas linhas…. Eu fiz metade da folha…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ah… muito bem, muito bem… então… e depois? O que aconteceu?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Depois… o professor Amadeu pegou nas nossas folhas, leu-as todas baixinho e pediu para irmos com ele, precisava de nos mostrar uma coisa no pátio…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A sopa arrefecia, enquanto a mãe do Miguelito segurava a colher. Desta vez… a coisa prometia, sem dúvida.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- … e nós lá fomos, atrás dele . continuou – e a dona Matilde, a funcionária do primeiro piso, fez uma cara muito espantada, quando nos viu a passar no corredor… e imagina, mãe? Levou-nos até ao lago, aquele que tem a fonte…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- O lago? Aquele junto das árvores, no pátio da tua escola?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sim… esse mesmo. E depois… depois é que foi mesmo… muito estranho. Nem imaginas…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe concordou com um movimento de cabeça. Pois não, não imaginava.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ele pegou em cada um dos nossos trabalhos… e começou a fazer… aqueles barquinhos de papel, como os que me ensinaste a fazer, lembras-te? Aqueles em que se dobra a folha várias vezes…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sim, sim… sei quais são… e depois? Vá, conta… e depois?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Depois? Depois atirou-os à água, e disse para olharmos para eles. Oh mãe… ele atirou os nossos trabalhos à água, a sério, não estou a inventar…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Anhhh… sei… claro que não estás a inventar… mas ele disse alguma coisa? Disse porque motivo os tinha lançado à água?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Disse… mas ninguém percebeu nada. Nem eu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe fez-lhe sinal para que metesse mais uma colher à boca.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sim… mas tenta lembrar-te… o que disse ele?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O Miguelito esforçou-se por reproduzir a ideia, apesar de não se lembrar das palavras.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- … qualquer coisa sobre os barcos serem diferentes… apesar de feitos do mesmo papel, dobrados do mesmo modo… mas com diferentes coisas lá escritas…. oh, mãe… eu não percebi, a sério que não percebi…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe sorria, cada vez mais interessada naquela aula … inesperada.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- E ainda te recordas da frase que ele escreveu no quadro?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Claro que recordo, era tão esquisita… “ eu sou culto, tu és inteligente, ele é esperto”…o que achas que significa, mãe? Tu sabes?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe continuava a sorrir-lhe. Aquele professor Amadeu…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Talvez Miguelito, talvez… olha, já imaginaste… daqui a alguns anos, ou muitos anos… o que estarão fazendo todos os teus colegas da turma? Já imaginaste o que poderão ser… quando forem grandes… adultos?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele encolheu os ombros. Como adivinhar o futuro?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Um daqueles barquinhos… poderá transformar-se num grande cientista…. Outro talvez num escritor famoso, outro ainda num atleta fantástico… ou quem sabe outro ainda num varredor de rua, no senhor do talho ou num arrumador de carros… já pensaste nisso?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Miguelito acenou um não indeciso com a cabeça.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sabes Miguelito… se o vento for forte… qual será o que ficará mais despenteado? O esperto… o inteligente… ou o culto?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O filho olhou para a mãe, encantado.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Isso é uma adivinha, mãe?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não… diz lá… qual pensas que ficará mais despenteado?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Miguelito hesitou, sem saber muito bem como atacar o problema.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não sei… como posso saber?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe passou-lhe uma peça de fruta para junto do prato.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- É simples, Miguelito… ficará mais despenteado… aquele que não estiver usando um chapéu, não achas?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O filho abriu a boca, num protesto inútil.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Mas… tu não falaste em chapéus… assim não vale… porque não falaste em chapéus?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A mãe levantou-se, esvaziando os pratos sobre o lava-louças.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ora, Miguelito… porque há coisas que não devem ser ditas…. Devem ser descobertas… e suspeito…. Suspeito vagamente que talvez fosse isso que o professor Amadeu… enfim…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Olhou para o relógio de parede e deu um salto. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Miguelito…. Ai… ai… olha as horas, olha as horas…. Estamos atrasados, corre, corre, vai lavar os dentes, anda, anda, mexe-te… senão sou despedida…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-66599064092068292462011-04-03T12:37:00.000+01:002011-04-03T12:38:26.899+01:00Como lágrimas à chuva<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNmDGfoHgJREASxx290Uj7SRBYHnfjEJKQErrB9o5VzMK0xbj092sMoISp6E-rAR313_1uEbsOuwSUdU3mxf4q4XKrGLgW7ZpKIn9NEoR4hsUmC_2qi-5zkn2mI9KPC-Oc5oX-cLc3Ez8I/s1600/ThisAscension-TearsInRain.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 321px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNmDGfoHgJREASxx290Uj7SRBYHnfjEJKQErrB9o5VzMK0xbj092sMoISp6E-rAR313_1uEbsOuwSUdU3mxf4q4XKrGLgW7ZpKIn9NEoR4hsUmC_2qi-5zkn2mI9KPC-Oc5oX-cLc3Ez8I/s400/ThisAscension-TearsInRain.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5591320145753594354" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Invisível… como uma lágrima à chuva, rodeada de gotas de água.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Assim se sentia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Deve existir uma razão, um propósito para tudo isto… qual o sentido de continuar vivo… se não entender o porquê? – pensou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mais um dia findava, o sol desaparecendo sob nuvens distantes, o mar estranhamente silencioso.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Respostas, preciso de respostas… onde errei? Onde errei?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Silêncio. Simplesmente o silêncio; sem respostas… nem vozes, nem ruído de passos, tão pouco mensagens em garrafas pela maré baixa.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Olhou em redor; coqueiros… um paraíso verde a perder de vista, areia imaculada, riachos cristalinos brotando das rochas e desaguando num mar turquesa. A felicidade – se cenário idílico de um filme – seria pintada com aquelas cores, certamente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas… quanto tempo se passara entretanto? Um ano? Dois anos? Quando decidira abandonar tudo… emprego, família, amigos… e isolar-se do mundo numa ilha deserta… acreditara cegamente ter encontrado a solução – tudo quanto lera, quanto ouvira, quanto pensara… parecia apontar-lhe essa direcção… “ ouve a tua voz interior, foge das distracções que te cercam, inventa o teu próprio mundo”…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não fora precisamente isso que ele tentara fazer?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sobrevivera como um autêntico náufrago naquela ilha paraíso, meditara, rezara a um deus desconhecido, implorara por respostas…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas a solidão não acalmou, as noites não se esvaziaram de pesadelos, tão pouco o olhar se iluminou de descobertas… ou respostas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Porquê? Porquê? Porquê?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Três anos antes… aquele acidente; brutal, inesperado, injusto, tremendamente injusto. Ceifara-lhe a felicidade, o presente, o futuro. Ela partira. Só isso. Para uma viagem sem regresso. Ele permanecera vivo… sem motivo ou razão. Porquê?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sentou-se na areia, esperando sem pressa que o mar o visitasse.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Chegara ao seu limite, sabia-o bem.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Porque tudo tem um limite, um ponto a partir do qual… há que saber desistir… deixar ir… e aceitar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Naquele momento, sentiu ter tocado essa ténue fronteira entre o querer estar vivo e o sentir o supérfluo de estar vivo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A primeira das ondas da maré que subia tocou-lhe os dedos dos pés.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sim… um tempo como outro qualquer.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Porque não?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ergueu-se e dirigiu-se ao mar, o passo sem pressa.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não sentiu a água; nos pés, nos joelhos, subindo devagar pelo peito, salpicando-lhe o rosto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não sentiu quando submergiu, expirando o pouco ar que ainda lhe restava nos pulmões.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não sentiu nada.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Permaneceu sereno, balouçando com o vaivém das ondas. Abaixo da superfície, reinava o silêncio, um silêncio azul. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Aos poucos, um ardor encheu-lhe o peito, os pulmões vazios suplicando por um pouco de ar, só um pouco de ar. A vista turvou-se, imagens fantasmagóricas rodearam-no de cores garridas. Não viu anjos nem trombetas, túneis de luz, harpas celestiais, mãos estendidas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Simplesmente… aquele vulto branco… ao longe, como em todos os sonhos, um corpo em sereno descanso, os braços pendentes, os cabelos esvoaçantes.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Chorou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Inutilmente… mas chorou, o sal das lágrimas engrossando um mar salgado, simplesmente mais uma gota de tristeza num oceano silencioso.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O corpo não lhe obedeceu mais e com um impulso dos pés, irrompeu à superfície, o peito sequioso a devorar ávido o precioso alimento.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ar… vida… <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">As lágrimas continuaram a cair-lhe no rosto, disfarçadas entre todas as gotas de água.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E foi então que o desespero lhe brotou da alma, na forma de um grito, que mais ninguém ouviu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas gritou, e gritou, e gritou, até a garganta não conseguir mais emitir um único som.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Gritou, simplesmente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">De medo, de desespero, de querer morrer e de querer viver, de ter que prosseguir viagem sem mapa, sem rumo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas ninguém o ouviu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O mar, como sempre, acolheu no seu peito mais algumas lágrimas e a maré continuou a encher, mais salgada, sobre a praia deserta.<o:p></o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-9671698598136957822011-03-29T11:24:00.003+01:002011-03-29T11:28:41.947+01:00O poeta triste<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOLM2JFWDtMTNB_6Vuqbc6UwwdJrWPDIJi76RATsZNaztvZJML-rCAuUliUWZvIW4cKivE4wSZqENQLIj3XSvjH6419UiSkI8TyjoOanU2vOKZoaURFNpbzocUwHQD1cGbptF2hyWUv_yu/s1600/poeta.png" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 292px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOLM2JFWDtMTNB_6Vuqbc6UwwdJrWPDIJi76RATsZNaztvZJML-rCAuUliUWZvIW4cKivE4wSZqENQLIj3XSvjH6419UiSkI8TyjoOanU2vOKZoaURFNpbzocUwHQD1cGbptF2hyWUv_yu/s400/poeta.png" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5589446032199620274" /></a></div><div style="text-align: center;"><i>( Origem da imagem <a href="http://jornaltrovador.blogspot.com/">aqui</a> )</i></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O poeta sentou-se, exausto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“Terminei a minha obra prima, mereço descansar…” - pensou, encostando-se ao troco da árvore.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E assim permaneceu, atento ao cair das folhas… na esperança vã que a brisa primaveril o bafejasse de novo com a inspiração.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas o tempo passou, passou… as brisas deram lugar ao estio e às tormentas do Outono… e a inspiração… não chegava.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“ Só uns versos, não peço mais… só o inicio de uma estrofe…”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas nada…. Rigorosamente nada lhe brotava dos dedos, nem a simples vontade de afagar a erva macia onde se sentara.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Foi então que um pequeno pássaro castanho – talvez um pardal – lhe pousou aos pés, estranhando tal imobilidade.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Morreste, ó poeta? – chilreou ele, de um jeito pouco comum nos da sua espécie.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não, pardalito… não morri… estou simplesmente à espera que me chegue a inspiração…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O pardal abriu o bico, hesitando em responder.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Segundos depois, levantou de novo voo, desaparecendo entre as folhas secas das acácias.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O poeta permaneceu sentado, ainda à espera.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">No dia seguinte, o pequeno pardal, no seu voo matinal em busca de sementes, encontrou-o no mesmo local, encostado ao tronco da árvore, contemplando ansioso o percurso das nuvens no céu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Bom dia poeta… - cumprimentou o pardal – já encontraste o que procuravas?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O poeta balançou a cabeça, o desânimo estampado no rosto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ainda não… passam ventos, dias e noites, estações, chuva e até crianças a brincar… só não passa a minha inspiração…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O pequeno pássaro seguiu viagem. Havia que aproveitar o dia, o Inverno aproximava-se a passos largos e urgia recolher todo o alimento que fosse possível encontrar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Passaram-se alguns dias, até os caminhos do pequeno pardal se cruzarem com a árvore descanso do poeta.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Bom dia poeta… como estás hoje?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O poeta, visivelmente mais magro e abatido por tão prolongada espera, lá conseguiu erguer um dedo e esboçar um sorriso.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Olá, pardalito… continuo à espera… continuo à espera…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Desta feita, o pardal não conseguiu mais conter a resposta.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- À espera? À espera de quê?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Da inspiração, claro… que mais poderia ser? Eu sou um poeta, não percebes? Preciso de inspiração…é o meu alimento, sem ela eu morro…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O pardal chilreou algo ininteligível.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Poeta… eu também morreria… se não procurasse todos os dias o meu alimento…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ora …. Isso é fácil… tu tens asas, podes voar, percorrer os campos… ah, se eu ao menos pudesse voar…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O pequeno pardal esticou as asas, preparando-se para levantar voo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Poeta, poeta… se eu ao menos pudesse falar, caminhar, ser humano… mas crês tu que sou menos feliz por não o ser?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E como o poeta não lhe soubesse responder:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Poeta, poeta… que triste poesia é a tua… que nem no milagre de teres encontrado um pássaro que fala contigo consegues ver um pouco de inspiração…<span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p></div><div><br /></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-50125743473805906152011-03-26T00:11:00.002+00:002011-03-26T00:12:38.718+00:00Terceiro acto - Uma história invulgar<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6k1573Gx17tbbqaYrWIttTvlZAVbem9ZEiSS3U4DtWf1bQDCqtm7bo4FTp7nIjSj_TlLiCc_batJR2z2xR1YndBLy_9PNJCFPm2PqwB_C-0KVnA2RLQY3gA5RfU_dJwWPN2qg_nCJ0vqm/s1600/O-TEATRO-RIBEIRO-CONCEICAO.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 309px; height: 250px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6k1573Gx17tbbqaYrWIttTvlZAVbem9ZEiSS3U4DtWf1bQDCqtm7bo4FTp7nIjSj_TlLiCc_batJR2z2xR1YndBLy_9PNJCFPm2PqwB_C-0KVnA2RLQY3gA5RfU_dJwWPN2qg_nCJ0vqm/s400/O-TEATRO-RIBEIRO-CONCEICAO.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5588174739026275250" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Terceiro acto<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A enorme sala do nobre teatro engalanara-se a rigor; os lustres polidos, o estuque retocado, a tapeçaria do corredor central substituída. Uma vez por ano, a academia literária reunia-se de forma extraordinária para atribuir os prémios aos seus notáveis pares, nas várias categorias de drama, ensaio, novela, poesia, revelação. Uma cerimónia já com mais de meio século de existência e que, pela primeira vez na sua história, iria englobar até uma nova distinção, mercê da intercepção de um mecenas das artes, um empresário milionário ligado ao mundo do jogo e dos casinos – o prémio Lusofonia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">À hora marcada, as luzes apagaram-se e à boa maneira americana, o apresentador de serviço saltou para o palco, ao mesmo tempo que se iniciava a projecção de uma pequena peça documental, retratando momentos significativos da academia, rostos ilustres já premiados, capas de obras notáveis, imagens de tertúlias, livrarias, alfarrabistas, gente anónima a ler nos parques, nas praias, nos autocarros…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O apresentador aproveitava as deixas programadas e lá ia introduzindo “ e este ano, graças ao empenho pessoal da fundação Andrade, na pessoa do seu presidente… “<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Margarida lançou um olhar distraído em redor.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sempre tivera uma estima especial por aquele teatro, um daqueles locais que exalava uma atmosfera única, contagiante. Ali assistira a muitos ciclos de cinema, num tempo em que o espaço – antes de servir para as galas da moda – era utilizado por companhias de teatro amadoras, pequenos eventos culturais e projecções de cinema independente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“ Betty Blue”, “ Vivement dimanche “, “ La grande bouffe “, “ Ran “… e “ Les uns et les autres”, de tão grata memória.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">As memórias são, por vezes, estranhas companheiras.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Esboçou um leve sorriso, ao recordar aquele último título, um filme enorme, com uma banda sonora fantástica, com as últimas cenas e… uma coreografia do bolero de Ravel como nunca havia visto até então. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Repetira o filme… duas vezes, acompanhada.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Memórias.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O apresentador passara a palavra a um conhecido novelista, autor de várias obras já passadas ao pequeno ecran. “ E na categoria de novela, a academia distinguiu este ano…”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não era o tipo de obras que mais a seduzia. Em boa verdade… esperava ansiosamente o tal prémio especial, que distinguiria de uma forma inovadora, um trabalho conjunto de dois autores… e sabia-se dos bastidores que essa colaboração envolvia a ilustração de uma obra… e que ambos os autores eram desconhecidos do grande público.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“ E agora, na categoria de ensaio, a academia decidiu atribuir…”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Estranhas, as voltas do mundo – pensou. Tantas e tantas vezes ali se sentara, nas desconfortáveis cadeiras de tecido vermelho… e agora, volvidos os anos, ali se encontrava de novo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Uma ovação fê-la regressar à realidade.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O milionário filantropo subira ao palco e após agradecer discretamente os aplausos, iniciara uma longa dissertação sobre as virtudes do mecenato, o apoio às artes, o seu gosto pessoal pela literatura e pintura, conseguindo misturar e incluir no discurso a promessa de mais iniciativas como aquela, em prol da cultura.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“ É portanto com imenso prazer que a fundação Andrade, em estreita colaboração com o júri desta academia, vai entregar o primeiro prémio Lusofonia a dois jovens valores, um no campo da ilustração gráfica… e o outro na categoria de romance… pela colaboração original que deu origem a essa obra notável que nos surpreendeu a todos… os filhos de África. Minhas senhoras e meus senhores… <span style="mso-spacerun:yes"> </span>Teresa Augusta de Melo “<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Uma salva de palmas acompanhou a entrada da figura esguia, uma mulher de meia idade toda vestida de negro, nitidamente pouco habituada a pisar palcos. Vacilou um pouco, agradeceu com uma vénia tímida e recebeu das mãos do orador um estojo aveludado, acompanhado de um envelope.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Margarida não a conhecia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ouvira falar da obra – os filhos de África – aparentemente um romance sobre a vida aventureira de Diogo Cão, navegador com o nome ligado às terras de Angola. As ilustrações – dizia-se – reproduziam de modo soberbo todo o inóspito continente e as suas gentes, uma autêntica obra-prima.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“… e o co-autor deste notável trabalho… jovem promessa do nosso meio literário… “<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Margarida espreitou curiosa. Seria alguém conhecido?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“ … José Duarte Almeida, que com esta sua primeira obra publicada, se destaca…”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não… aparentemente também não lhe dizia nada; nem o nome, tampouco a figura, um jovem de barba rala e casaco de xadrez. Mas enfim… não podia ter a pretensão de conhecer toda a gente… apesar de ser muito boa a fixar rostos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Menina… o casaco…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela virou-se em sobressalto, não se apercebera da presença.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Oh, desculpe… não reparei que estava aqui… se me dá licença…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pegou no pequeno círculo de plástico numerado e lá foi procurar o respectivo casaco. Ah, ali estava ele, bem ao canto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Entregou-o com um sorriso, preparando-se para a horda de apressados que muito em breve ali se acotovelariam ao balcão, recolhendo os casacos, chapéus, gabardinas e chapéus de chuva, principalmente chapéus de chuva.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">À parte o pormenor de permanecer de pé longos períodos, gostava do trabalho. O bengaleiro do velho teatro era bastante espaçoso e amplo, com uma vista privilegiada sobre uma das entradas da sala, o que lhe permitia sem grande esforço assistir a tudo o que ali decorresse, sem praticamente precisar de abandonar o local de trabalho.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- … é aquele claro, ali ao fundo…<span style="mso-spacerun:yes"> </span>- lá ia dizendo mais um recém-chegado, depositando-lhe a ficha plástica nas mãos – e também o chapéu de chuva que está mesmo ao lado…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela apanhou-o e repetiu o procedimento habitual; pendurar o círculo numerado no local, conferir o objecto a devolver, sorrir para o cliente, dizer boa noite.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Tenha uma boa noite, senhor…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Meia hora depois, restavam apenas três ou quatro objectos por recolher.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Agora já me sabia bem um pouco de descanso… - murmurou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Abaixou-se para esfregar o joelho esquerdo, sempre mais maltratado. Aquela sensação de calor incomodativo nas pernas – talvez o prenúncio de varizes – era horrível.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Por favor… aquela gabardina…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Quase de cócoras e de costas voltadas para o balcão, estremeceu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Há vozes… que nunca mais se esquecem. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E mesmo sem adivinhar o quanto poderia o tempo ter alterado aquele rosto, sabia perfeitamente que o reconheceria, em qualquer recanto do mundo onde o visse.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Virou-se lentamente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Teodoro…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele, farda de motorista de limusina e chapéu na mão, encostado ao balcão… abriu os olhos de espanto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Margarida…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pois bem… perguntam vocês…. Então e depois?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pois… não existe um depois para ser contado, não existe um final feliz ou infeliz… existe simplesmente um reencontro, um reencontro improvável num palco que porventura ambos quereriam pisar… mas que o destino e as contingências da vida ditaram de modo bem diferente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Teodoro não seguiu a carreira de escritor, Margarida não se transformou numa pintora famosa. Seguiram os seus destinos e estranhamente… voltaram a encontrar-se.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O futuro destas nossas personagens… seria o quarto acto. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Que não será escrito aqui.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Nem eu sei se após aquele assombro… sorrirão um para o outro, se os olhos brilharão um pouco mais, se o coração baterá mais depressa.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Chega uma altura em que o destino – nem que seja na forma de escrever uma história – se rende ao supremo dom da criação.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">As nossas personagens… Margarida e Teodoro… são senhoras do seu próprio destino.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E como tal, senhora e senhores, meninas e meninos… vamos…. Deixemo-los a sós agora por uns momentos… certamente terão muitas coisas para dizer um ao outro, não vos parece?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Vá… vamos … deixemo-los a sós… <o:p></o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-20773681680981498892011-03-24T10:10:00.002+00:002011-03-24T10:12:51.374+00:00Segundo acto - Uma história invulgar<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ8VU2pHW8wqqbCc7Y39CGtBRVYN26P5qDTUqA02iq0-Hy8MXpRUDe5fyHnkbPgTOSjki-uM_LhH9RGdP6-ZWAHsaBpFBg5BNfjOsWwducAkyM48yVvfv4Mep257s8jZhpwx6Ts_ZCiUx5/s1600/African_Woman_jm13-v.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 150px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ8VU2pHW8wqqbCc7Y39CGtBRVYN26P5qDTUqA02iq0-Hy8MXpRUDe5fyHnkbPgTOSjki-uM_LhH9RGdP6-ZWAHsaBpFBg5BNfjOsWwducAkyM48yVvfv4Mep257s8jZhpwx6Ts_ZCiUx5/s400/African_Woman_jm13-v.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5587587023444153954" /></a></div><div style="text-align: center;"><i>( Pintura de Joanna Misztal )</i></div><div><br /></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Segundo acto<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pois… é verdade, Teodoro e Margarida encontraram-se. E mais do que isso… completaram-se, num estranho desígnio intraduzível por palavras. Como ele – tão hábil com as palavras – gostava de repetir… “ela era a mais improvável companhia que ele poderia encontrar e no entanto… os dias perdiam absurdamente o sentido sem ela por perto”.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Margarida sorria, embalada pelas palavras. Coloria-lhe os poemas, numa conjugação perfeita daquilo que ele pensara escrever e só disfarçara em estrofes rimadas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Talvez que afinal… as pinturas e as palavras se completassem, porque não?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um dia, ela desenhou a silhueta fugaz de uma mulher, carregando um cântaro sobre a cabeça, quase um pequeno ponto escuro, numa tela colorida de cor-de-laranja. E enquanto hesitava sobre o fundo e os pormenores para completar a obra, ele acercou-se de mansinho e murmurou-lhe ao ouvido “ deixa assim… ela está no deserto, não está? O deserto é assim… “ <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E ela sentiu-se lida na alma, como se os pensamentos entre os dois fossem cristalinos, transparentes.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O tempo passou. Não interessa quanto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas passou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um dia, sem aviso prévio… separaram-se. A desconfiança instalara-se entre os dois; ela sentia uma espada em cada palavra que ele escrevia, ele sentia o ardor do ciúme em cada rosto que ela desenhava.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Os pensamentos – antes transparentes – criaram lodo e odor fétido, escorrendo em palavras gastas, repetidas, ofensivas, dilacerantes.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Será assim que se perde o paraíso?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Quando simplesmente se deixa de acreditar … que ele existe?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O certo é que as nossas duas personagens deixaram de acreditar; no paraíso, no amor, na confiança, nelas próprias. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E como querubins expulsos do jardim celestial, viraram-se costas e fugiram, cada qual para seu canto do mundo, na esperança vã de procurar um novo paraíso.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E mais uma vez… o tempo continuou a passar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Desta vez… de uma forma estranhamente lenta, como se até ele se recusasse a contribuir para aquele aumentar da distância entre os dois.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não, dirão vocês… mas afinal a história é banal… tantos e tantos casos de pretensas almas gémeas que se encontram e quase completam… para logo depois se voltarem a separar. É a vida, o simples decurso normal dos dias, a insustentável leveza do ser, como diria o escritor…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E têm razão… ou melhor, teriam razão… se a história terminasse aqui.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas não termina, este foi simplesmente… o segundo acto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E ainda falta o último erguer do pano… e o desenlace final.<o:p></o:p></span></p></div><div> </div><h2 style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 60px; color: rgb(0, 45, 86); font-size: 18px; text-align: center; font-family: Arial; font-weight: bold; line-height: 18px; "><br /></h2><div><br /></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-33272986402552876162011-03-23T13:13:00.003+00:002011-03-23T14:56:10.643+00:00Uma história invulgar<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQLSvFJ34O_9GEBMPMk1zRvD0uEcrT0Hzztn7AyJTqAAJf-ceBUcasfCfMSqszU3y-xOpTnOCV_XPC3A2xp-5jqeFa21Ya1wurFB0CYgmi_hP8woKmFuW7AyZVyXatH-mxpPcxou_I7Flc/s1600/Night+Waterfalls+1208.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 332px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQLSvFJ34O_9GEBMPMk1zRvD0uEcrT0Hzztn7AyJTqAAJf-ceBUcasfCfMSqszU3y-xOpTnOCV_XPC3A2xp-5jqeFa21Ya1wurFB0CYgmi_hP8woKmFuW7AyZVyXatH-mxpPcxou_I7Flc/s400/Night+Waterfalls+1208.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5587263051314523778" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Primeiro acto<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Senhoras e senhores, meninas e meninos…. Vou contar-vos a história de Margarida e Teodoro, duas personagens vulgares como tantas outras… e de como o destino ( à falta de melhor nome ) os escolheu como protagonistas de uma história no mínimo… invulgar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Margarida era uma garota de tranças, irrequieta e pouco dada à obediência. Dividia um amor incondicional entre o seu estojo de pintura – oferta da avó – e o cão Napoleão, este sim, nada irrequieto e bastante amigo de longas e bocejantes sonecas, enroscado aos pés da dona. Na escola, era conhecida entre os professores como a “Mordillo”, uma alusão ao célebre cartonista.. e que a acompanhava desde o dia em que pintara uma caricatura de todos os professores da turma, no pátio branco da escola. A pintura foi apagada… entre gargalhadas, assobios e um lamento do professor de desenho, que ainda tentou interceder por ela.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Teodoro frequentava outra escola, outro bairro, outra cidade.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Escrevia nas paredes como quem escreve num diário – poemas, divagações, por vezes pequenas histórias. Não era muito popular entre as raparigas, tampouco o primeiro a ser escolhido para os jogos de rapazes. Mas era um ás naqueles saltos das aulas de ginástica, e provocava sempre sorrisos entre os amigos quando dizia: “ quando eu tiver um animal de estimação, será um castor, ou um esquilo. E chamar-se-á Martinho”.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Conheceram-se numa daquelas coincidências banais – uma visita de estudo, um intercâmbio de alunos entre as duas escolas. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Margarida acabara de descer do autocarro e observava a parede branca de um edifício abandonado, mesmo em frente ao portão da escola. Chamou-lhe a atenção um conjunto de linhas – qual carreiro de formigas – que preenchia a parte inferior do mesmo. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Observou com mais atenção – frases? Um jornal de parede?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mordida pela curiosidade, galgou a rua e acercou-se do edifício, acompanhada por uma colega.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- O que é isto? A bíblia? Um testamento? – brincava a amiga.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Margarida devolveu-lhe o sorriso, lendo ao acaso algumas das linhas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- São histórias, creio… alguém se deu ao trabalho de ir escrevendo aqui histórias… - e ia seguindo com o dedo o percurso sinuoso das palavras – e poemas… também tem poemas…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A amiga lançou-lhe um adeus e voltou para junto dos restantes colegas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não te demores… a visita começa às onze… - ainda gritou<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Margarida já não a ouviu. Tropeçara numa ilha, uma história de náufragos e de salvamentos, depois saltara para outra… e ainda outra. Num dos extremos da parede, reparou que a partir de uma dada altura, surgiam datas, como se o autor estivesse a datar os escritos – alguns bem recentes.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Olha… esta é de hoje… - murmurou <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“ De que valem os sonhos, de que vale toda a magia… se for escrita e não lida, se for guardada e não usada? Eu não quero ser copo de cristal para banquetes e cerimónias, quero ser usado, quero sentir e ser sentido, não quero ser só o confidente dos que me procuram…”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Lembrava-se de já ter escrito algo de semelhante… mas não numa parede.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Instintivamente, levou a mão ao bolso e retirou um lápis de cera azul – trazia sempre algum consigo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Em três tempos, desenhou duas silhuetas, de mãos dadas, com uma linha de horizonte e algumas palmeiras <st1:personname productid="em fundo. Depois" st="on">em fundo. Depois</st1:personname> acrescentou por baixo, em letras pequenas:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“ Não és o único… bem vindo à minha praia e aos meus sonhos.”<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E afastou-se a correr, de encontro ao resto do grupo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pois, perguntarão vocês… mas isto não foi um encontro! É verdade, não foi um encontro real… mas foi assim que se iniciou o processo… quando uma das almas começou a procura da outra. E depois… bem… depois foi assim…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Algumas semanas depois, ocorreu uma nova visita, no seguimento do mesmo intercâmbio; a escola previamente visitada retribuía agora a visita, levando alguns alunos para participar numa série de actividades relativas à preservação do ambiente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Teodoro, claro… fazia parte da comitiva, como podem imaginar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E foi naquele final de tarde chuvoso, após a projecção de um filme sobre a extinção dos habitats… que algo aconteceu às nossas duas personagens.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">No âmbito de um projecto escolar, a turma de Margarida fora encarregue de pintar um painel alusivo ao ambiente, com textos e imagens, para posteriormente ser exposto numa feira escolar. E Margarida, muito naturalmente… fora a escolhida para desenhar a imagem de fundo, sobre a qual os colegas teriam que redigir algumas frases relativas ao tema.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E Margarida… pintou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Imersa nos seus pensamentos, alheia a tudo o que a rodeava… pintava, misturando as tintas de spray com traços nervosos a cera, a carvão, pinceladas de guache, uma mescla improvável de tudo o que a mão alcançava.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pintava… uma queda de água.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Em sonhos… conhecia aquele lugar como a palma das suas mãos. Um jorro de água cristalina a brotar das pedras, galgando a muralha de pedra e projectando-se no vazio, para se desfazer em espuma alguns metros abaixo, numa pequena lagoa de águas revoltas, ladeada de nenúfares e ervas altas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E no alto, bem no ponto mais alto, uma enorme laje, como se a natureza houvesse escolhido aquele local como um pequeno santuário, um éden esquecido no meio dos campos, só acessível em sonhos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Teodoro permanecia imóvel, contemplando simplesmente o enorme mural, o azul cheio de espuma brilhante a entrar-lhe pelos olhos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sem saber como, sentia o rosto molhado de espuma.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Margarida, indiferente à presença de todos os visitantes, continuava a pintar, afastando-se compassadamente para – ao de longe – conseguir abarcar uma melhor visão do conjunto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Eu já sonhei com esse lugar… - murmurou baixinho Teodoro.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E foi então que talvez algo verdadeiramente tenha acontecido.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Como poderia Margarida ter ouvido tais palavras, pouco mais que um murmúrio confesso, no meio da algazarra dos muitos alunos, de ambas as escolas, que se acotovelavam para espreitar o enorme mural?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas… ouviu-as. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não foi preciso procurar muito.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A muitos metros de distância, Teodoro engoliu <st1:personname productid="em seco. Sem" st="on">em seco. Sem</st1:personname> saber bem o como ou porquê, teve a certeza que o seu desabafo – na forma de um murmúrio – fora ouvido… e percebeu, num instante que teve o sabor de uma eternidade, que acabara de encontrar a autora da estranha pintura sobre o seu mural, com aquela frase “ Bem vindo á minha praia e aos meus sonhos”.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sim, é verdade… foi assim que as nossas duas personagens deste conto se conheceram… mas… não se levantem ainda, a história ainda não terminou… não querem saber o que aconteceu a seguir?<o:p></o:p></span></p></div><div><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQLSvFJ34O_9GEBMPMk1zRvD0uEcrT0Hzztn7AyJTqAAJf-ceBUcasfCfMSqszU3y-xOpTnOCV_XPC3A2xp-5jqeFa21Ya1wurFB0CYgmi_hP8woKmFuW7AyZVyXatH-mxpPcxou_I7Flc/s1600/Night+Waterfalls+1208.jpg"></a><br /><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-64956246975008071322011-03-18T13:06:00.002+00:002011-03-18T13:07:46.368+00:00O anel<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN2CfUzQad4C6WmU5vT2jVTF5CwRZPrNfik2hHa92eL2pTesdj4Bqc0SSvlEn3PCWtYOotr5mH1qNkMLBkD2HAyZl8Atl-LudIb64nigWNWSmlWfhFO7JHx3pzp4c-yfhPTW9oOzwpTA8t/s1600/anel1.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 231px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN2CfUzQad4C6WmU5vT2jVTF5CwRZPrNfik2hHa92eL2pTesdj4Bqc0SSvlEn3PCWtYOotr5mH1qNkMLBkD2HAyZl8Atl-LudIb64nigWNWSmlWfhFO7JHx3pzp4c-yfhPTW9oOzwpTA8t/s400/anel1.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5585405795492880882" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O círculo é a união perfeita… sem um inicio, um meio ou fim. Talvez fosse por isso que os anéis tivessem um simbolismo tão… mágico.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">De platina, ouro ou simplesmente prata, como aquele que agora rolava preguiçosamente por entre os dedos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Fechou os olhos e deixou-se embalar pelo ruído das ondas. À sua frente, um mar imenso espraiava-se sobre areias brancas e conchas brilhantes, a praia deserta de gente e pejada de gaivotas tardias. Um final de dia, mais um final de dia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O que procurava verdadeiramente?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Porque não existiria um manual da felicidade, com capítulos pormenorizados sobre as vicissitudes da vida, sobre a solidão, sobre o amor e o desamor, sobre a ausência e sobre o modo mais simples de ser simplesmente… feliz?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O anel continuava a rolar sobre os dedos. Brilhante, polido, repleto de sonhos ainda por cumprir.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A curta distância, um casal pedia a um transeunte ocasional – por favor, não se importa de nos tirar uma fotografia?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sorriu, as memórias bem vivas a aflorar-lhe ao espírito.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Retirou o anel do dedo e entreteve-se a fazê-lo girar como um pião, sobre o muro baixo que separava o passeio marginal do areal da praia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E o anel girava, girava, girava, como se animado de uma energia insuspeita, capaz de vencer obstáculos e resistir ao tempo…. E continuava a girar…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Nesse momento, algo de inacreditável aconteceu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Uma gaivota mais afoita desceu em voo picado e num rasgo de inaudita ousadia, acercou-se do paredão, planou uns segundos, encolheu as asas e… apanhou o anel com o bico, em pleno movimento, erguendo-se de novo nos ares.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não… o anel não… - gritou ele, entorpecido pelo insólito da situação – o anel não…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas era tarde demais. A gaivota bateu as asas e afastou-se num ápice, em círculos cada vez mais largos, sobre o areal.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele sentiu um aperto, a garganta a fechar-se sobre si própria.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Por favor… o anel não… nada mais tenho… o anel não…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Os turistas de ocasião continuaram imperturbáveis as suas vidas, alheios ao pequeno drama que ali se desenrolava. A estância balnear, tão disputada no verão, reduzia-se a uma mera aldeia na estação baixa. As gaivotas misturavam-se com as pessoas, já ninguém estranhava de as ver pousadas no pequeno muro.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Por favor… eu entendi o recado… por favor… não me leves o anel…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Um silêncio leve caiu sobre a praia, interrompendo o grasnido desordenado dos bandos de gaivotas. Uma delas em particular continuava volteando em círculos sobre o areal, mais e mais círculos, talvez indecisa sobre o rumo a tomar ou o local para pousar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E foi então que… algo de mais incrível ainda aconteceu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A gaivota mudou subitamente de rumo e planou em descida suave até ao muro, onde pouco antes pousara.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E desta vez, sem pressa, estranhamente animada de uma intenção… pousou a poucos centímetros, baixou o bico e deixou cair sobre a pedra branca… o anel.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ainda assim permaneceu largos segundos, como se a tentar transmitir algo de importante, numa linguagem feita de olhares e silêncios. A mensagem era para ele… e só para ele.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Finalmente bateu as asas e levantou voo, desta feita em linha recta, rumo ao oceano.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Existem momentos na vida em que até o respirar pode ser o mais doloroso sentir.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pegou no anel como um cirurgião seguraria um coração humano.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não queria explicações.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não queria perceber.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Durante muito tempo, demasiado tempo… procurara explicações para tudo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Uma simples gaivota acabara de lhe demonstrar que a vida nem sempre segue o manual.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas que por vezes… existem segundas oportunidades… e que acima de tudo, viver é… um acto de fé… <o:p></o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-42039974301645358002011-03-17T10:32:00.002+00:002011-03-17T10:33:20.740+00:00Elegia da sorte<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSxuY9opa5UyAaLapDxB0SSfk9yc7ayTz80AzoXGMlgwBhxt9UA6IQ7vGvEbBNIs9UlIlr4i1sLrYY3PVcTFeTFgdPXDGqjHkLdHuns5xQXRNQuYJhpFAuqdtI4MIgVBxi9v4RXrNW7GSX/s1600/2948614682_fc67fae20d.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 267px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSxuY9opa5UyAaLapDxB0SSfk9yc7ayTz80AzoXGMlgwBhxt9UA6IQ7vGvEbBNIs9UlIlr4i1sLrYY3PVcTFeTFgdPXDGqjHkLdHuns5xQXRNQuYJhpFAuqdtI4MIgVBxi9v4RXrNW7GSX/s400/2948614682_fc67fae20d.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5584994979375243746" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Maravilhoso, fantástico…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Já reparaste nas cores, aquelas tonalidades?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- O recorte?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Como é que ele conseguiu… aquela forma?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Pois… por isso é que as gotas do orvalho só o procuram a ele…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Os trevos acotovelavam-se de incontida inveja, olhando de soslaio para aquele congénere felizardo, beijado pelas gotas do orvalho matinal.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E ele – o visado – inchava de orgulho, as suas três folhas verdejantes de vida, sorrindo discretamente para todos quantos o rodeavam.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Os outros – claro, todos os outros – eram simples trevos de quatro folhas. Monótonos, simétricos. Ele… ele era único.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele possuía… três folhas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Nascera assim, fruto de uma qualquer coincidência ou predestinação.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Era especial, procurado pelas gotas de orvalho.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sorriu, enquanto murmurava:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Doce primavera…. Vem… <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Os outros trevos de quatro folhas continuaram os seus murmúrios de desencanto. Oh, como deveria ser maravilhoso, fantástico mesmo… ter nascido um trevo de três folhas…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p></div><div><br /></div><div><br /></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-67713183959978649832011-03-14T22:05:00.003+00:002011-03-14T22:06:51.641+00:00Poema da insónia<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUFAZpMrbqAp5zOCex7q_bjVKf29GHAHGlnw2q0qGOkZmIdLzGODPgJxpWiJKHYummemxJSAF1cjCaOQdVXSGSbnXwDy3AMzVwCiHqITPzSVhjHhAomZscdlE6e8WTB3NOQ1HvpwaG65si/s1600/71068.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 338px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUFAZpMrbqAp5zOCex7q_bjVKf29GHAHGlnw2q0qGOkZmIdLzGODPgJxpWiJKHYummemxJSAF1cjCaOQdVXSGSbnXwDy3AMzVwCiHqITPzSVhjHhAomZscdlE6e8WTB3NOQ1HvpwaG65si/s400/71068.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5584060274937818850" /></a></div><div style="text-align: center;"><i>( imagem de Igor Panov )</i></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Deitou-se, o corpo dorido sobre o tapete macio do quarto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O sono fugira-lhe por entre os dedos, como uma memória tardia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Por um segundo, desejou ser pássaro, gaivota ou simples rouxinol, sem mais palavras que o cantar trinado das manhãs.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Porque teria que ser tudo… tão complicado?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Porquê… tantos porquês?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Já dizia o célebre escritor romano Públio Siro “ Ninguém pode fugir ao amor e à morte “.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Fechou os olhos. Divagava.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não queria fugir.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Nem ficar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Não queria estar… nem deixar de estar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Que angústia, a de querer nada ser, nada sentir, nada sofrer.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Simplesmente adormecer.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E descobrir em sonhos uma razão maior para continuar a respirar…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p></div><div><br /></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-47354362790778885282011-03-09T11:48:00.002+00:002011-03-09T11:49:30.011+00:00As três irmãs<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTtLH0lsn-uDHkpXJaAkfUoPtXwP0jEQ_grdowlHu79Fkdx3Zl7RQFfM1z-LX9Q0IBC8BnbHEqXjN-cuwylQoDjsziZKnuNOwprmp4u1XdunqzVxb6-Y9tX3Mbglpn40721SUpYaDz0Hc1/s1600/west2.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 300px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTtLH0lsn-uDHkpXJaAkfUoPtXwP0jEQ_grdowlHu79Fkdx3Zl7RQFfM1z-LX9Q0IBC8BnbHEqXjN-cuwylQoDjsziZKnuNOwprmp4u1XdunqzVxb6-Y9tX3Mbglpn40721SUpYaDz0Hc1/s400/west2.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5582045871410407650" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“ Para a mais bela das rosas “<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Nem mais uma palavra, nem assinatura. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Nem um remetente, tão pouco um destinatário.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Simplesmente o papel dobrado de fresco, a caligrafia fina e.. aquela rosa, uma rosa vermelha como nunca havia visto igual.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Alice… Marta… - gritou – venham ver… venham ver…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">As irmãs acorreram ao pátio, onde Leonor – a mais nova das três – pegava cuidadosamente na estranha oferta que alguém deixara na soleira da porta.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Uma flor… - repetiram em uníssono.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Por um segundo, assaltou-lhes o mesmo pensamento.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Para quem é? – quis logo saber Marta, a mais velha das três.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Quem ofereceu ? – contrapôs Alice.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Leonor abanou a cabeça, sem resposta para nenhuma delas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não sei… o papelinho não dizia nada… - e exibiu o papel dobrado na ponta dos dedos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Alice, a mais irrequieta das três apanhou-o de pronto, releu-o três vezes, tentando descobrir algo mais do seu remetente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Será do Serafim, o filho do padeiro? Eu sei que ele está apaixonadíssimo por mim…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Marta ria.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Desculpa, minha querida irmã… e porque seria a flor para ti? Eu é que sou a mais velha… e também me oferecem flores…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Leonor, a que encontrara a misteriosa oferta, assistia impávida à querela, segurando numa mão a flor, na outra o papelinho dobrado.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Também pode ser para mim… - ainda tentou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">As irmãs não ouviram o desabafo. Seria o Serafim? O José, aquele que se instalara recentemente na aldeia, o ruivo? Ou o filho do sacristão, o Manelinho? Oxalá não fosse o Rogério… o chato do Rogério, sempre com aquela brilhantina pegajosa no cabelo…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas a rosa… a rosa era linda, ainda um botão a desabrochar, vermelho rubro sem mácula. Ditosa a escolhida, se a paixão de quem oferecera a flor se assemelhasse a tal beleza natural.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">As três irmãs, tão próximas na idade, não poderiam ser mais diferentes entre si – na personalidade, nos gostos, nas preferências, até no modo de vestir e andar. Marta, a mais velha era a face de Vénus, rosto perfeito e olhos verdes esfusiantes, roliça de corpo e desembaraçada no andar. Nos bailes da aldeia era sempre a rainha da festa, a primeira a ser escolhida para dançar. Era bela, extraordinariamente bela… e sabia-o. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Alice - um ano mais nova – era loura e de olhos azuis, pele branca e lábios finos, uma deusa nórdica nascida entre paisagens do sul. Não era só Serafim - o músico - que se encantara com tamanha beleza. Josué, o professor de pintura dedicara-lhe um quadro, qual ninfa entre as águas, descansando nas margens do rio. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Mas Alice era – sempre fora – a arrelia da pacífica aldeia, irrequieta e de temperamento explosivo. Não caminhava… corria. Não sabia falar baixo… e discussão em que participasse… teria sempre que terminar com a sua opinião… em último lugar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Leonor, a mais nova das três, resultara numa mistura temperada; morena e de olhos negros, delgada de figura e atraente de perfil. Vestia como uma cigana, roupas largas e lenços coloridos, que faziam as delícias dos rapazes, com quem competia de igual para igual nas travessuras da escola. Carregava permanentemente um livro – ou dois – que por mais que uma vez já arremessara com delicada pontaria à cabeça de um pretendente mais atrevido.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Posto isto, quando no dia seguinte surgiu uma segunda rosa – amarela – na soleira da porta, acompanhada de um bilhetinho, Leonor – sempre a primeira a ouvir a sineta – não teve pejo em gritar:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Meninas… o vosso pretendente deixou novo recado…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E mais uma vez Marta e Alice se precipitaram sobre a irmã mais nova, debatendo-se para lhe retirar o papelinho dobrado de entre os dedos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">“ Queres ir passear amanhã até ao lago da floresta? “<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Assinado : R<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Oh, não… será o Rogério? Por favor, que não seja o Rogério… - suplicava Marta, retorcendo os dedos – todos menos o Rogério, por favor…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Creio que o Serafim também tem Raul no nome… pode ser o Serafim… - e Alice continuava firme naquela suspeita.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Leonor já esquecera o papel, entregando-se à contemplação da rosa amarela; aliás, acomodara cuidadosamente a rosa vermelha numa jarra, com água e atenções. Não se lembrava de ver rosas tão perfeitas como aquelas, em nenhum dos canteiros da aldeia. De onde teria o misterioso pretendente colhido tão belas flores?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Marta lá ia enumerando o rol de possibilidades, perante o olhar de descrença das irmãs.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Raul, Rogério, Ricardo, Rafael, Ramiro, Roberto, Rudolfo…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Parem com isso… - e Leonor esbracejava, perdida de riso – vocês parecem duas baratas tontas, à procura de uma guloseima.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">As irmãs interromperam o ritual por um segundo, enquanto Alice espetava o dedo na direcção da irmã mais nova.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Leonor pela verdura… não te intrometas, ainda és muito nova para estas coisas…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A irmã mais nova corou de incontida raiva. Oh como ela detestava aquela comparação do Camões, a eterna estrofe do “ Leonor pela verdura, vai formosa e não segura “. Já respondera à letra – e por mais que uma vez – aos rapazes menos inspirados, sempre que se descaíam com aquele tão pouco original galanteio.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Optou portanto por lhes voltar costas e correr escadas acima, em direcção ao quarto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Fosse como fosse, o dia seguinte afigurava-se prazenteiro e dado a surpresas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E assim, no dia seguinte…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Como há muito não sucedia, o toque da sineta da porta foi ouvido pelas três irmãs. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sem surpresa, Leonor foi ultrapassada em corrida ao descer as escadas, Alice precipitava-se para a porta, com Marta na peugada. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Aparentando a maior das naturalidades, foi Alice que conseguiu abrir a porta.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Olá…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A figura do outro lado levou a mão ao boné, segurando desajeitadamente uma rosa branca entre os braços.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- R… Romeu? – e Alice sorria.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Romeu, o filho do pastor, devolveu-lhe o sorriso.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Olá, Alice… como estás?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Olá Romeu… estás muito bem, ficas muito bem assim… - gaguejou ela <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele suspeitou dos pensamentos que lhe iam na alma e foi logo avançando.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Obrigado, Alice… tu também estás muito bem… e diz-me… ela está aí?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Alice abriu os olhos, pronta para a surpresa. Pois então Marta nem lhe dissera nada? Sabendo já antecipadamente, deixara-a enumerar todos os “R” deste mundo… ora, ora… <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Marta… - e ergueu a voz, fingindo que a irmã não se encontrava escondida bem atrás de si – está aqui o Romeu… e trás uma flor para ti…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Foi a vez do filho do pastor a interromper, aflito.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Marta? Não, não… eu vim ver a Leonor… a Leonor… ela não recebeu os meus recados?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">As duas irmãs mais velhas trocaram um olhar de desentendimento.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Leonor, parada a meio das escadas, corou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sim, claro que conhecia Romeu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">No baile da primavera, ele sentara-se ao lado delas, até cirandara Alice, dançara com ela, trouxera uns amigos, contaram anedotas. Lembrava-se de ter trocado algumas palavras com ele, não mais que algumas palavras. E agora… ali estava ele, de rosa branca na mão, a convidá-la para sair?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Olhou para ele.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Romeu, o filho do pastor, ocupava a soleira da porta em contra luz, mal lhe reconhecia as feições.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Desceu as escadas e acercou-se da porta, as irmãs com um mal disfarçado sorriso ao canto dos lábios.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Olá, Romeu…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele esticou o braço, a rosa branca na ponta dos dedos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Uma rosa e um convite.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele parecia estar a dizer-lhe “ Vens? “<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">E ela – sabe-se lá porquê – mesmo sem ouvir a pergunta, lá se ouviu a murmurar:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Vou, sim… <o:p></o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-24806721656129887492011-03-03T08:51:00.004+00:002011-03-03T10:16:46.425+00:00I wish you were here<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF3avA45tdvgHJcB3TdW4XOnJgDrJhaTbp4P-P8DFaZgGT5X0ARFliyIeJVitweoa7WBB6g_I9_2_dxny9S2XbApV5tXx6aJkemrru8fVlqKs09EGyF3Ezu87XVlX9vhwEWeOaqw8PqL-b/s1600/27022011213.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF3avA45tdvgHJcB3TdW4XOnJgDrJhaTbp4P-P8DFaZgGT5X0ARFliyIeJVitweoa7WBB6g_I9_2_dxny9S2XbApV5tXx6aJkemrru8fVlqKs09EGyF3Ezu87XVlX9vhwEWeOaqw8PqL-b/s400/27022011213.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5579773920299226178" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><span lang="EN-GB" style="font-family:"Trebuchet MS";mso-ansi-language:EN-GB"><span class="Apple-style-span" >“ I wish you were here “</span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span lang="EN-GB" style="font-family:"Trebuchet MS"; mso-ansi-language:EN-GB"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="EN-GB" style="font-family:"Trebuchet MS";mso-ansi-language:EN-GB"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Assim cantavam os Pink Floyd – pensou – num tempo já distante em que algumas canções eram mais que canções, eram bandeiras.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Rodou com prazer o botão do volume e o auto-rádio dedilhou os acordes inconfundíveis daquela viola, rasgando o silêncio primaveril. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Estava sozinho. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Oxalá tu pudesses estar aqui… cantava o vocalista, naquela voz rouca que fora ficando mais rouca, com o passar dos anos. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Olhou em redor; uma vastidão de silêncio, águas calmas e margens verdes cobertas de malmequeres brancos e amarelos, bandos de garças e cegonhas, pardais fugidios e nuvens brancas longínquas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Pisou o tapete musgoso, deixando abertas as portas do automóvel – havia que soltar a música, sentir o vento no rosto, esticar os braços.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Por vezes, os passos sem rumo levam-nos a insuspeitos paraísos. Fora o que lhe acabara de suceder, ao decidir naquele passeio matinal virar à direita num cruzamento da estrada onde sempre virara à esquerda. E um gesto tão simples, num cruzamento que conhecia há mais de vinte anos… levara-o a um local desconhecido, simultaneamente tão perto e tão longe da civilização, sereno e pejado de pássaros em voos tranquilos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Oxalá tu pudesses estar aqui… repetia o refrão… percorrendo o mesmo velho chão… o que encontramos? … os mesmos velhos medos…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><span class="Apple-style-span" ><span class="apple-style-span"><i><span lang="EN-GB" style="font-family: 'Trebuchet MS'; ">Running over the same old ground.</span></i></span><span class="apple-converted-space"><i><span lang="EN-GB" style="font-family: 'Trebuchet MS'; "> </span></i></span><i><span lang="EN-GB" style="font-family: 'Trebuchet MS'; "><br /><span class="apple-style-span">What have you found? The same old fears.</span></span></i></span><i style="mso-bidi-font-style:normal"><span lang="EN-GB" style="font-family:"Trebuchet MS"; mso-ansi-language:EN-GB"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="EN-GB" style="font-family:"Trebuchet MS";mso-ansi-language:EN-GB"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="EN-GB" style="font-family:"Trebuchet MS";mso-ansi-language:EN-GB">Era verdade. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Os mesmos percursos só podiam originar os mesmos destinos. Como esperar coisas novas dos dias, continuando sempre a realizar as mesmas acções? Uma simples decisão, o virar errado do volante, um novo caminho, um novo destino. E como imaginar que aquele local pacífico se encontrava ali bem perto… ao alcance dos dedos… sem nunca o ter descoberto? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Uma garça mais afoita planou a curta distância, talvez curiosa pela inusitada presença.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A poucos metros, um “escorrega”; talvez que durante o verão – quem sabe até antes – aquele local fosse utilizado como praia, parque de merendas ou retiro de pescadores. Talvez que alguém se tivesse lembrado de ali montar aquela estrutura para entreter a pequenada. O certo é que aquela silhueta colorida, habitualmente associada aos risos e travessuras das crianças… parecia estranhamente deslocada, envolta num silêncio que não lhe pertencia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Memórias de outros tempos… como aromas de infância; sim, era isso, o passado assemelhava-se a um aroma, a uma fragrância… algo de etéreo, não palpável… mas vivo. Tal como aquele “escorrega”, ali isolado numa paisagem azul.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Por vezes – pensou – é necessário reencontrar a personagem fugidia que se esconde cá dentro… conseguir chegar à fala com ela, perguntar-lhe os seus mais secretos desejos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Por vezes, o “ Oxalá tu pudesses estar aqui “ deveria ser um convite para essa personagem, para esse outro lado do eu mesmo, aquele ser com que só conseguimos falar quando nos esvaziamos de todos os outros, de todas as personagens que nos cercam.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Por vezes… faz falta deixar de viver a vida dos outros.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Acercou-se do “escorrega”. A madeira ressequida pelo sol tornara-se áspera, a plataforma cor-de-laranja por onde as crianças desciam estaria até necessitada de algum tipo de produto, para evitar fissuras.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Subiu os estreitos degraus e sentou-se na rampa de partida, como se ainda tivesse dez anos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Há muito, muito tempo… que não descia por um escorrega.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">A voz interior que naquele dia teimava em se fazer ouvir sussurrou-lhe aos ouvidos:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- A vida é feita destes pequenos momentos, acredita… deixa-te ir…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Olhou em redor.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">O automóvel continuava testemunha, as portas abertas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Os pássaros continuavam imperturbáveis os seus voos, o vento não cessara de agitar as pétalas dos malmequeres.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Sim… na verdade, a vida era feita daqueles pequenos momentos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Empurrou-se a si mesmo até ao extremo da plataforma… e voltou a ter dez anos, num qualquer parque de brincadeiras…<o:p></o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-49761029122732888762011-02-25T17:50:00.004+00:002011-02-25T17:56:56.009+00:00Um novo turno...<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLhUFdrj8TRfdmE3X2n-TYGUj5qN0y_5sS6hGBnwR7vpuUzEAuGiWi5MG6gwfdN1BJ41N9bzEbVjlFknFiqBiQCcuEJv4ngLqojLTgGIAyCg7ow4a_KLzRH2oe3uw8yrbfTYj5iGvz9tPV/s1600/pink_umbrella___leonid_afremov_by_leonidafremov-d32r9os.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 302px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLhUFdrj8TRfdmE3X2n-TYGUj5qN0y_5sS6hGBnwR7vpuUzEAuGiWi5MG6gwfdN1BJ41N9bzEbVjlFknFiqBiQCcuEJv4ngLqojLTgGIAyCg7ow4a_KLzRH2oe3uw8yrbfTYj5iGvz9tPV/s400/pink_umbrella___leonid_afremov_by_leonidafremov-d32r9os.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5577686154257696018" /></a></div><div style="text-align: center;"><i>( Imagem de Leonid Afremov )</i></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- … Mas que idade tem você? Desde que me lembro, sempre a recordo assim… você não envelhece?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela deixou-se rir, a cabeleira grisalha a ondular ao vento.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ora essa, Jonas… nem parece seu… e desde quando se pergunta a idade a uma senhora?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele levou a mão ao pequeno saco de flanela vermelha e retirou um par de amendoins torrados, que num ápice fez desaparecer na boca.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- É verdade, é verdade… nunca se pergunta… mas que quer? Eu sempre tive esta curiosidade… e recordo sempre a sua imagem e claro… essa sombrinha.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ahh, a sombrinha… a minha sombrinha cor-de-rosa?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Exactamente… - e ele observava-a com atenção – aliás, nunca a vi sem ela, ao longo de todos estes anos… sempre juntas, sempre inseparáveis…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela lançou-lhe um ar cândido, as rugas dos olhos desdobradas num sorriso que a idade adocicara.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ora, Jonas… coisas de mulheres, você já devia saber que todas temos as nossas manias… você também tem…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Eu? Essa agora… claro que não tenho…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Ah isso é que tem… que eu também já o conheço há muitos anos… e esse saquinho de flanela, cheio de amendoins… o que é?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele resignou-se a um sorriso, qual criança apanhada com a mão no doce proibido.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Amendoins… simplesmente amendoins, sou um guloso….<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Pois… sim… vou fazer de conta que acredito… como se eu não soubesse que anda sempre por aí a distribuir amendoins… como se fossem trevos de quatro folhas…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Jonas, pois assim se chamava o nosso homem dos amendoins, esticou o braço na direcção da mulher, a palma da mão aberta numa oferta de um punhado daqueles pequenos objectos cor de caju, estaladiços.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Íris… você é terrível, uma pessoa já não pode oferecer inocentemente alguns amendoins que até você repara logo… e a propósito… quer um? São deliciosos…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela declinou amavelmente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não sou só eu que reparo nestes pormenores – e espetou o dedo indicador para o alto – já ouvi uns rumores que você tem sido bastante elogiado… lá em cima…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele quase se engasgou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Íris… ok, ok… numa coisa dou-lhe razão, cada um com as suas manias… mas que quer? Habituamo-nos a fazer as coisas de um determinado jeito, não é? Tal como você e a sua inseparável sombrinha cor-de-rosa…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Sim.. a minha sombrinha…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Vá… conte-me lá… aqui de colega para colega… como é que faz? Para que serve exactamente a sombrinha cor-de-rosa?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Íris, olhos verdes e farta cabeleira grisalha, roupa de cigana a fazer lembrar os tempos em que ser hippie era também uma forma de vida. Meia idade, talvez mais, quase nos sessenta, pele tisnada de muito sol, sandálias de couro nos pés e… aquela sombrinha cor-de-rosa na mão.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- A minha sombrinha… para que serve a minha sombrinha, quer você saber… pois bem, eu conto-lhe… se prometer não revelar o meu segredo… a mais ninguém…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Jonas, o eterno homem dos amendoins, abriu os olhos de incontido espanto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Claro que não revelo, ora essa… um segredo é um segredo…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Pois a minha sombrinha… - lá começou ela – é mágica, tal como os seus amendoins.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ele ficou á espera da continuação… mas como Iris se limitasse a observá-lo, não resistiu. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Não entendi… como pode ser uma sombrinha cor-de-rosa… mágica?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Oh, Jonas… claro que pode… então como faz com os seus amendoins? Serão eles também mágicos… ou é você que faz a magia, de cada vez que anda aí pelas ruas, a ajudar estes humanos insensatos que nos rodeiam? Pois com a minha sombrinha… passa-se a mesma coisa, exactamente a mesma. Limito-me a abrir a sombrinha sobre as pessoas… e o resto é magia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Só abre a sombrinha? Mais nada? Nem um “Plim-plim”, “ abracadabra” ou umas palavras assim baixinho, numa linguagem qualquer esquisita? Nada?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela abanou a cabeça, sorridente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Nada… rigorosamente nada. Digo-lhes simplesmente que a sombra da minha sombrinha cor-de-rosa é mágica… e que os banha de magia… o resto… vem por acréscimo…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Jonas ainda ia acrescentar algo, mas um trovão distante, anunciando uma tempestade eminente, fê-lo mudar de ideias. Conhecia bem os sinais… e o respectivo significado.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Íris também os conhecia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Creio que Alguém nos está a dizer que já chega de conversa… e que é hora de entrarmos ao serviço…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Riram-se, um sorriso cúmplice ao canto dos lábios.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Afinal… a missão era a mesma, fossem os instrumentos um saquinho de flanela vermelha cheio de amendoins ou uma sombrinha cor-de-rosa.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Hoje vou para norte – despediu-se ela – e você, Jonas?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Para sul… durante toda esta semana, para sul….<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ficou a vê-la afastar-se, a saia larga a fazer lembrar uma delicada sacerdotisa, o passo ligeiro e as mãos a segurar inutilmente os longos cabelos contra o vento.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Íris… - ainda gritou – só uma coisa…<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela virou-se para trás, sem se deter.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- A sombrinha… porque a cor? Porquê cor-de-rosa?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">Ela riu-se, um riso cristalino que lhe chegou límpido e com a cor de uma cascata de água fresca.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS"">- Oh, Jonas… então de que cor haveria de ser? Os anjos também têm sexo… não têm?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-5103893573135128310.post-73896225049978823762011-02-24T10:48:00.002+00:002011-02-24T10:50:52.539+00:00Um passeio no parque<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjurnvBr2zJ2iytEeBBEoMOZX0Kp8cXtx_2WZPMUKm3cVqnxEcZAEQUbInJ1eVq4Y2nsh4v8bRg_2i9w2JzEp4XCBe32FkTNEbbXgd1WJryC4ibRiRnLzzez1jHxgKQc_SeBUIVXMfJZOZ1/s1600/passeio_no_parque.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjurnvBr2zJ2iytEeBBEoMOZX0Kp8cXtx_2WZPMUKm3cVqnxEcZAEQUbInJ1eVq4Y2nsh4v8bRg_2i9w2JzEp4XCBe32FkTNEbbXgd1WJryC4ibRiRnLzzez1jHxgKQc_SeBUIVXMfJZOZ1/s400/passeio_no_parque.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5577206432204845874" /></a></div><div><br /></div><div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " ><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Chuva. Miúda, persistente, intercalada de nuvens cinzentas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Nem seria o frio, ou o vento... simplesmente aquela chuva insonsa, que de tanto cair, abafava o brilho do sol, fechava as pétalas das flores e retirava a vontade a tudo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Chuva.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >E, naquele dia... novamente.... mais chuva.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Espreitou de novo pela janela. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Não... nem valia a pena tentar esperar por uma aberta, um raio de sol. Decidida, deixou-se levar, atravessou o pequeno jardim que separava a pequena casa da rua estreita... e lá foram as duas, em direcção ao parque.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Muito cedo para os habituais corredores, os atletas de domingo, as crianças de triciclo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >O parque, bem encostado à lagoa de águas cinzentas, encontrava-se imaculadamente vazio.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Em silêncio, percorreram as veredas, contornaram a fonte de pedra, os canteiros salpicados de flores.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >De quando em quando, salpicos teimosos insistiam em cair, gotejando dos ramos das árvores, sempre que a brisa soprava um pouco mais forte.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >- Não... por aí não... vamos contornar o lago...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Ela não a ouviu... ou fez de conta que não ouviu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >- Teimosa... sempre teimosa...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Resignada, seguiu-lhe a vontade.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Ambas cor-de-rosa, alegres, sobressaindo do verde molhado do parque, contrastando no cinzento das pedrinhas roladas do carreiro. Conheciam tão bem aquele percurso que certamente o poderiam repetir, sem enganos, de olhos fechados. O parque, embora vazio de visitantes, permanecia um mundo cheio de movimentos e sons camuflados, de cantos inesperados dos pássaros, de correrias timidas dos esquilos, de gritos roucos dos cisnes.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >As gotas de chuva, esparsas até então, engrossaram subitamente. Uma nuvem mais escura, sobressaindo do cinzento amorfo do céu, persistia em persegui-las.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >- Corre... vamos para casa...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Ela fez mais força, os pedais rangendo ao esforço.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Não resultou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Completamente encharcada, abriu a porta de casa e encostou a bicicleta cor-de-rosa à parede da garagem.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >- Vou tomar um bom banho e já te venho limpar - cantou alegremente, como se a bicicleta cor-de-rosa a pudesse ouvir - não te quero ver enferrujada...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >A bicicleta rosa, cestinha de vime pendurado no guiador, permaneceu muda, vendo a dona desaparecer no corrdor.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >As bicicletas não falavam, claro. Mesmo que fossem cor-de-rosa.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " ><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Muito lentamente, deixou-se escorregar ao longo da parede, até junto da janela envidraçada. Se conseguisse que a sua dona a ouvisse... certamente que a primeira coisa que lhe gostaria de dizer seria que aquele local, bem junto da janela da garagem, era o seu local predilecto. Ali se deleitava com o movimento da rua, o passar incessante dos automóveis ruidosos, do buzinar de todas as manhãs.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >E claro... não só por isso.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " ><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Existia também aquele ínfimo pormenor... daquela bicicleta cinzenta e prata, de cromados reluzentes, que todas as manhãs lhe lançava uma buzinadela cristalina, por vezes um piscar de farolim. Se o entregador de jornais soubesse...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " ><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Mas não.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Nem o entregador de jornais, montando a sua vulgar bicicleta cinzenta e prata sabia... nem a sua dona, como qualquer adolescente passeando no parque com a sua bicicleta cor-de-rosa sabia.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Quem poderia adivinhar?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " >Uma janela, uma bicicleta rosa e a suave sedução de um piscar de farolim, todas as manhãs?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; " ><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family: 'Trebuchet MS'; "><span class="Apple-style-span" >Ahhh... se ela ao menos pudesse falar...</span><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="X-NONE" style="font-family:"Trebuchet MS";mso-bidi-font-family:"Trebuchet MS"; color:black;mso-ansi-language:X-NONE"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></span></p></div>Rolando Palmahttp://www.blogger.com/profile/13512186862289624242noreply@blogger.com5