segunda-feira, 2 de maio de 2011

Janela do mundo


( Foto de minha autoria - Cacela velha, Algarve )


- Mestre… algo me atormenta…

- Percebo que sim, meu amigo, percebo que sim… estarás melancólico, porventura?

- Melancólico? Não sei definir, mestre… é um misto de tristeza, apreensão… como se estivesse à janela a ver passar o mundo…

- É um pensamento deveras interessante, esse…

- Interessante, Mestre? Não. Não é interessante… é algo mais como uma solidão palpável, uma espécie de abandono…

- Fiquei curioso… e entretanto, suponho que já tenhas reflectido sobre a questão…

- Já… já pensei muito… e nada mais encontro senão a cauda dos meus próprios pensamentos… porque caminho em círculos, mestre?

- Ah, meu amigo… quem melhor que tu mesmo para descobrir as respostas que procuras? Mas… repito, fiquei curioso… falaste em abandono, em solidão… depreendo que a analogia com o veres passar o mundo da tua janela… terá a ver com esse facto?

- Certamente, mestre. Todos passa e ninguém me vê… serei assim tão invisível aos olhos dos que me rodeiam?

O mestre sorriu, em contraste com a expressão de pesaroso desânimo do discípulo.

- Sabes… quem anda na rua tem uma certa dificuldade em adivinhar quem se oculta por trás das janelas de cada casa… todas elas parecem iguais, principalmente quando fechadas… Já experimentaste abrir as janelas de par em par ou, melhor ainda… sair para a rua e tropeçar nos que ali passam?


9 comentários:

  1. Que lindo isso!

    Há os que passam a vida se escondndo por trás das janelas da vida...

    Adorei ver essa janela também! abraços,tudo de bom,chica

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  2. Que belo conselho!! Vezes demais nos queixamos de estarmos sós quando somos nós que nos isolamos... :) Beijinho

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  3. Um conto com um sorriso enorme no seu final!

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  4. Sim, para sentirmos a vida, havemos de sair da redoma que nos protege mas, em contrapartida, nos isola.

    Um abraço, Rolando!
    Inês

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  5. Este mestre disse uma grande verdade, só podemos ser vistos quando noe expomos.

    beijinhos

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  6. O mais difícil é conseguir abrir as janelas, por vezes estão tão emperradas e com os ferrolhos tão ferrugentos que temos que usar de uma força que por vezes nos falta para as escancarar de par em par.
    Quando nos decidimos a abri-las é que percebemos que lá fora há um mundo bonito à nossa espera.

    Beijos
    Manu

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  7. Amigo que saudades da tua companhía,eu, estou como esse aluno...e a minha janela, como diz a Manu, enpenada e com os ferrolhos ferrugentes...,
    Mas a verdade, é que também não tenho vontade de abríla...

    BJS..... :-)

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  8. Rolando,
    as janelas muitas vezes não querem ser abertas. Outras, vivem escancaradas.

    Umas são de alumínio, mais resistentes à imtempéries.
    Outras, de madeira, podem ao longo do tempo perder sua beleza de antes, por conta das chuvas da vida.
    E as de vidro apenas, são bem mais fáceis de se enxergar o que se passa lá dentro.

    São tantos tipos de janelas.
    Muitas vezes uma ao lado da outra numa mesma parede, e tão distantes.

    A vida é assim, formada de janelas, muitas.

    Emperradas, enferrujadas, escancaradas, bem trancadas, outras abrem-se com um simples empurrão.

    O certo é que a vida está ali, do lado de fora.
    Por que não abrir estas janelas e experimentar o que ela nos oferece?

    Um abraço, amigo!

    Gislene.

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  9. Gostei do texto, por vezes nos encontramos tão virados para nós mesmos que nem os outros notam a nossa presença, é como estar à janela e ver a banda passar, é como estar no lugar de observador e não interferir com o desenrolar dos acontecimentos do mundo. Tens razão, devemos experimentar "lá fora" o que a vida tem ou nos pode proporcionar, porque quem não arrisca também não petisca ehehehheheh :))

    Grande Abraço ^_^

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